terça-feira, 26 de março de 2024

Julgamento e autorregulação emocional

Julgamento e autorregulação emocional

Mentes prisioneiras do julgamento funcionam basicamente vigiando, culpando e punindo. E temem abrir mão de seus valores e crenças porque a atitude julgadora não elaborada lhes salvou do desamparo imaginário da infância. Temendo a morte do seu ego apegado e auto engrandecido pelas certezas e ameaçado pelas dúvidas, seguem reproduzindo as condições que criam ciclos transgeracionais de sofrimento transmitindo às novas gerações o pesado fardo superegóico que receberam. Tornando a vida um pesadelo, julgam baseados nas suas boas intenções, o que lhes permite inocentar-se de ações que causam danos aos outros, tais como: impugnar as ações alheias em nome da certeza de que as suas são e estão corretas, já que só julgam intenções e não o impacto de suas ações. Isso favorece a lógica do castigo como pedagogia, uma vez que sua intenção é louvável. No entanto, o castigo só aumenta a percepção de dor e culpa no castigado e não a compreensão de que escolhas têm consequências. Isso faz com que a crença no modo certo de agir bloqueie a percepção. 

A dinâmica punitiva gera um triângulo imaginário onde as mentes julgadoras estão aprisionadas. Esse triângulo é composto por agressor, vítima e salvador. O agressor é o agente punitivo, a vítima é o que se vê errado e o salvador é o julgamento em si. 

Mentes livres buscam corrigir as ações que deram errado sem necessidade de culpar ou punir. Agem livres da vergonha, da culpa, da raiva e do medo de errar. O medo passa a aparecer na possível perda da conexão emocional. 

As pessoas rígidas se perdem tanto de si mesmas quanto do outro quando tentam se regular através da conexão emocional com o outro uma vez que dão mais importância à validação das suas crenças e intenções do que à abertura emocional pelo coração, o que só é possível quando se pode reconhecer a natureza das emoções livre do julgamento. Já que não conseguem validar seus sentimentos, buscam justificá-los, quando fazem contato com eles. Quando se sentem bem em relação a si mesmos e aos outros, costumam comparar-se com os outros aumentando o valor de si próprios como se estivessem numa competição para serem os melhores, manifestando, mais uma vez, sua predisposição ao julgamento em lugar do apreço e do contentamento.

O crescimento da criança autorregulada pelo apoio e estímulo ao crescimento resulta em adultos capazes e mais seguros de si. Isso cria vínculos baseados na corregulação emocional.  Já crianças que crescem em ambientes julgadores e punitivos se tornam adultos inseguros, rígidos e medrosos porque quando erram se sentem culpados e desprotegidos em vez de estimulados a buscar acertar.

A insistência em punir é uma tática pedagógica eficaz para criar incompetentes, perdedores, mentirosos, sujeitos ao medo e pânico. Ou seres rígidos que não conseguem criar nada de novo.

Pais criados no sistema punitivo que realmente desejam o melhor para seus filhos devem procurar libertar-se das prisões mentais em que estão, sem nenhuma necessidade de punição. Devem buscar novas visões, ideias e métodos para então dar aos filhos a oportunidade de crescimento pessoal baseado em autoestima e senso de eficácia. Enquanto escravos do certo ou errado pouco ou nada entendem o que é agir desde uma base probabilística de acerto, que gera autoestima e não ansiedade e terror.

Podemos identificar 3 tipos de pessoas que exercem a paternidade de forma rígida.

O primeiro é o amoroso que apoia, mas cobra que filhos devem reconhecer seus esforços para que eles sejam aquilo que é idealizado pelos pais. O fracasso é tão temido quanto a morte uma vez que este representa "não ser ninguém". Geralmente esses filhos se identificam com essa postura e tendem ao perfeccionismo, à ansiedade e ao pânico.

O segundo tipo é frio e emocionalmente distante. Mas, cobra muito e dá pouco. Esses filhos tendem à depressão pois nunca se sentem à altura das expectativas dos pais.

O terceiro é o moralmente sádico. Exige desempenho com ameaças de punição pelo abandono e nunca está satisfeito com os resultados pois, para se manter seguro da sua superioridade sendo sempre o certo precisa diminuir os filhos enfraquecendo suas capacidades para seu próprio engrandecimento. Está sempre raivoso e crítico com falas ameaçadoras e promessas de castigo. Gera filhos incompetentes, inseguros, que desenvolvem neuroses de fracasso ou revoltados, brigões que em pouco evoluem na direção da assertividade.

Pessoas que vivem entre as polaridades do certo x errado ou bom x mau estacionaram nesta posição para evitar a angústia de não saber o caminho da assertividade e da tolerância ao erro. Testar novas formas para resolver problemas, desde os mais simples do cotidiano até as dificuldades impostas pelo viver num mundo marcado por agressões, negligências e sectarismos é, de fato, angustiante. Diante da angústia podemos não nos reconhecer capazes e senhores de nós mesmos. A angústia é um dos afetos mais importantes de nossa existência uma vez que nos coloca diante da verdade exposta por Freud quando diz que o “eu não é senhor em sua própria morada". A angústia destroça nossas ilusões fazendo com que nossas certezas percam toda a infalibilidade que inventaram para suportar o fracasso da impostura. 

O caminho para libertar-se de tal sofrimento é, acima de tudo, aceitar que somos fragmentos de natureza e que temos consciência e podemos nos reposicionarmos diante do que contraria nossos desejos de dominar o indominável e controlar o incontrolável. Aceitar que somos passíveis de tantos infortúnios nos livra do sofrimento de ter que ser maiores do que somos. Quando vemos que não precisamos mais inventar disfarces para encobrir nossas vulnerabilidades diante da incapacidade de controlar tudo e todos que não refletem nossa própria imagem, nos abrimos para a percepção de que a vida flui melhor em nossos corpos porque nossa energia vital não precisa mais ficar de prontidão. A percepção de perigo passa a funcionar baseada em perspectivas, não mais em perigos imaginários.

Pais se tornam mais focados na tarefa de prover recursos para que seus filhos possam crescer e se tornarem capazes sem recorrerem a métodos punitivos. Parceiros de relacionamentos amorosos podem desfrutar da abertura do coração para viverem o potencial energético de seus corpos liberando energia para os afetos descongelados. Os afetos mais profundos ficam congelados quando a mente está aprisionada pelo julgamento. O medo de errar e ter que “pagar por isso” sustenta tensões corporais tão profundas quanto as raízes do medo que as causaram. Isso inibe a fluidez e a leveza que permitem que os afetos mais ternos possam brotar.

As relações de trabalho podem deixar de ser competitivas e individualistas, uma vez que o medo de errar põe em risco as posições alcançadas e passarem a ser colaborativas e voltadas para o bem comum. Infelizmente, em muitas organizações e instituições profissionais as relações estão corrompidas por padrões perversos, sádicos e cruéis em nome do que é certo, tornando difícil sobreviver a ambientes tão hostis sem fortalecer defesas eficazes. Porém, quando possível, é necessário diferenciar quando o medo vem do ambiente e quando vem da própria imaginação para evitar que se dê “pérolas aos porcos”. Em tais organizações é necessária uma intervenção que alcance o grupo como um todo.

Olhando para cada um, individualmente, veremos que é necessário uma auto responsabilização sem a qual nada vai mudar. Além disso, é preciso considerar que sem uma visão de processo em nada essas palavras irão ajudar. 

A mente julgadora precisa aprender a avaliar a importância da conexão emocional e sua principal derivada que é a corregulação emocional.

 


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A RIGIDEZ CARACTEROLÓGICA

 

A RIGIDEZ CARACTEROLÓGICA

A.Ricardo Teixeira

Várias formas de ser podem compor o que chamamos de caráter rígido. As bases da rigidez, geralmente, são formadas por sentimento de culpa e vergonha, necessidade de afirmação do poder pessoal e pouca abertura para de receber amor. São pessoas que, quando crianças, não foram validadas na sua força e poder pessoal. Ou viveram em ambientes de comparação pelos pais. “Sua irmã é muito estudiosa!”. “Sua prima tem um corpo perfeito!”. “Siga o exemplo do fulano, veja como ele é bem-sucedido!”. “Nossa! Você demorou tanto a entender isso, seu irmão aprende rápido!”. Etc. Sem falar em sofrer punições severas quando comete algum deslize. Também há a birra, que é um comportamento natural em crianças por volta dos dois anos e que costuma deixar os pais “loucos”. Isso é parte do que forma crenças do tipo: “Não posso errar” ou “Se eu não estiver sempre certo serei uma vergonha”. E ainda, “Preciso afirmar meu poder senão serei controlado e desrespeitado pelos outros”. Então, as atitudes do caráter rígido refletem controle excessivo e um profundo medo de errar ou de ser “mau”. Como se o seu valor estivesse em obter resultados, atingir metas e objetivos. Do contrário, serão desvalorizados e perderão a autoestima. Não sabem validar-se pelo próprio amor.

A rigidez caracterológica cria ideais de perfeição e grandeza que impermeabilizam o ser contra as manifestações espontâneas da vida viva.

Crianças precisam sentir que seu tempo de se desenvolver é singular, que suas dúvidas e fragilidades são naturais e que sua dignidade e senso de valor pessoal estão intrínsecos em seu ser, existindo independentemente do efeito que possam produzir no mundo. Pessoas rígidas só foram valorizadas pelo que alcançaram como competências. Nunca pelo que possa brotar espontaneamente como criatividade e amor. Aprenderam a se validar somente pelos papéis que representam e existem para tal. É a boa mãe que deprimiu quando os filhos cresceram e foram embora de casa. É o/a profissional que quando tira férias fica com a cabeça no trabalho ou se alcooliza a maior parte do tempo pois não sabe viver fora do seu papel.

Isso torna o caráter rígido fechado para receber. Um agradecimento ou um elogio pode ser racionalizados como uma manifestação de algo “não-eu”, do tipo: “agradeça a Deus, ao destino, à sorte, não a mim”. O problema aqui não é a natureza vazia do “ego” mas sim, a presença de um estado de ego que sofre por não estar aberto para receber, naturalmente.

Como não se movem a partir do amor, da criatividade e da espontaneidade, mas sim das metas e objetivos, tendem a se ver em constante retorno ao esvaziamento de si mesmos que os leva imediatamente a buscar novas metas e objetivos. Por isso Wilhelm Reich disse que as metas são traições à vida viva.

Traumas podem estar presentes ou não nas memórias conscientes ou inconscientes do caráter rígido. O reprocessamento destes traumas com terapias como EMDR ou Somatic Experiencing, por exemplo, pode trazer muito alívio e bem-estar, minimizando assim o efeito nefasto dos traumas. Mas, um passo a mais tem que ser dado na direção da abertura para viver a vida no presente, desprovido dos anseios que tanto movem pessoas rígidas.

O medo de não estar  no controle, os prende mais e mais a suas defesas caracterológicas. Vivem como se cumprir regras e alcançar objetivos fosse o viver em si. Vivem atrás de objetivos pois assim podem manter afastados da consciência a culpa, a vergonha e a inferioridade que sentem na falta de poder e a sensação de não ter valor e merecimento. Por isso é tão difícil ajudar a essas pessoas a amar sem controlar, a apreciar o viver em si, como algo dinâmico e criativo.

A rigidez caracterológica é uma tendência a ser altamente pragmática e avessa ao erro e ao fracasso. Encontramos pessoas assim em posições de liderança e domínio. Professores universitários, chefes de estado, militares, cientistas, profissionais de saúde e educação, ou do Direito, empresários, enfim, profissionais que visam resultados a curto, médio ou longo prazo. Quase todos!

Pais rígidos obrigam crianças pequenas a engolirem a salada que vai lhes fazer bem à saúde mesmo que a criança faça ânsia de vômito. E ainda ameaçam: “se vomitar, vai ter que engolir o vômito!”. Como estão baseados em crenças não em processos, não avaliam que podem estar gerando as bases para um transtorno alimentar. Se orgulham de sua opressão baseada em crenças e valores morais que não se importam com a singularidade da natureza humana já presente nas preferências de cada criança. Não acreditam em autorregulação. Temem que a espontaneidade forme filhos irresponsáveis e incompetentes. “A vida é dura e você tem que aprender pelo sofrimento”. Importam-se apenas em alcançar ideais de perfeição.

O caráter rígido, crê que suas crenças e valores são inquestionáveis e vivem justificando seus equívocos com racionalizações imprecisas que os afastam, cada vez mais, da espontaneidade. Quando é analisado, tende a ser mais flexível. Porém, nem sempre, se abre para a essência do ser.

Alguns conseguem se flexibilizar através de práticas religiosas, meditação ou autoanálise. Mesmo assim, sua tendência a dar será maior do a de receber, mantendo o desequilíbrio.  Pois elaboraram o medo da punição trocando-o por desejo de recompensa. Mas, em seu ser há uma incerteza para receber porque a crença diz que, “para receber devemos merecer”. Isso faz o Caráter rígido poder ser doador, principalmente para validar sua crença de que tem que ser uma “boa pessoa” para não visto como uma “má pessoa”. Logo, sua doação está a serviço de uma crença e não de generosidade genuína, ou do reconhecimento empático de que o outro tem necessidades que não consegue atender sem ajuda.

A diferença que se pode encontrar quando nos desfazemos desses equívocos é que entendemos a vida viva como um dom em si, que não precisa de metas e objetivos. Só precisa se realizar. A razão, a organização e a hierarquia de procedimentos são meios para que se possa desfrutar do viver em si. Mas, os rígidos os consideram como um fim em si mesmo. Como disse um Lama budista: “Se você tem problemas com regras, peça ajuda. Aqui, o que importa é transmitir sabedoria”. A sabedoria nos liberta da compulsão que os desavisados pensam em superar através da desobediência. Daí o conflito entre seguir as regras para obter resultados ou desobedecê-las para ter liberdade. Ocorre que, na desobediência não encontramos uma liberdade que gere uma conexão com a vida natural e espontânea. O que encontramos, num nível mais abaixo, é o medo de ser controlado. A reação ao controle não gera bons frutos mas sim, outras formas de rigidez que se manifesta como uma constante polarização.

Isso não quer dizer que não devemos valorizar a necessidade de otimizar métodos e procedimentos, seja para curar, educar ou evoluir em algum aspecto. O que está em questão é que o imaginário que acompanha esses procedimentos pode estar contaminado pela busca de reconhecimento (recompensa), ou medo de punição.

Recompensa e punição podem constituir uma polaridade que aprisiona a consciência, deixando-nos  impedidos de apreciar a vida fora do tempo. Isso nos mostra que mantemos nossas mentes presas ao tempo quando repetimos o passado projetando-o no futuro.  

“Quero alguém que me queira como eu nunca me senti querido”. Isso é idealizar um futuro que visa compensar o passado. Logo, é uma repetição e não uma real abertura para o novo.

O “coração”, termo aqui empregado como uma dimensão própria e profunda de sentimentos, está ao fundo de cada ação e pulsa na sua natureza. Se podemos relaxar no que já somos, sem metas, poderemos sentir amor e o pulsar da vida viva descompromissada dos objetivos. Não precisamos ser melhores do que somos mas sim, deixar-nos livre para ser o que já somos. Não é preciso ter méritos para reconhecer-se digno de existir, amar e ser espontâneo.

 Os procedimentos, métodos, técnicas de cura e ensino, vão sendo otimizados com a finalidade de se alcançar objetivos. Estes são uma forma de dar praticidade e objetividade à solução de problemas e criação de novas tecnologias. A finalidade é a criatividade! Na arte, o reconhecimento público deve ser vivido separadamente do processo criativo. O processo criativo brota como uma resposta à interação do vivo com o todo. 

A importância da disciplina reside na possibilidade de aprimorar o talento, a capacidade. Não é um fim em si mesmo. Muitos praticantes de meditação praticam com a intenção de alcançarem o buda em outra dimensão. Vejo nisso a concretização da fantasia infantil de um ego que busca manter a ilusão de que existe separadamente e pode ser reconhecido pelo outro. A razão da prática meditativa, no budismo, é realizar a natureza búdica (libertar-se) em si. O que pressupõe a cessação da percepção de dualidade. Manter o foco na disciplina e nas regras é apreciar o veículo mais do que a viagem. É um produto da rigidez caracterológica que cria suas barreiras para manter-nos na ilusão de que existimos separadamente. Aqui temos que fazer com que as duas condições se alternem. A de que existimos separadamente e de que podemos nos reconhecermos unidos ao todo.

Precisamos do senso de identidade para dirigirmos um automóvel na posição certa da via, respeitando a regras do trânsito e chegar ao destino em segurança. Mas, quando lá chegamos, não precisamos mais pensar nas manobras e cuidados. O senso de identidade motorista cessa sua importância. Passamos para outra atividade ou a poder ser sem nenhuma meta ou pretensão. É aí que podemos nos soltar no presente.  No agora e apreciar o momento até que novas exigências da vida nos obriguem a retomar sensos de identidade.

Médicos e psicólogos que trabalham usando protocolos e procedimentos costumam se queixar de muito cansaço, desenvolvendo síndrome de burnout, pois não são movidos pela espontaneidade, criatividade e genuíno interesse amoroso em seus pacientes. Disciplinaram-se para desenvolver seus talentos e capacidades porém, não aprenderam a arte de apreciar a vida viva em sua essência, que só se mostra na abertura para se estar no aqui e no agora, sem tempo. Para isso, é preciso aprender a se reconhecer fora do tempo. É como dançar totalmente entregue à música e aos movimentos. É como estar sem ter para onde ir.

Como disse o Dr. Jorge Stolkiner: “O que ocorre é que tudo o que sabemos é passado. Não é algo novo nesse momento. O passado é o morto. Não podemos fazer com que floresça o vivo através do morto...

Se estamos aplicando técnicas visando que a pessoa melhore estamos repetindo as mesmas condições em que o problema se formou.  Pois estamos preferindo como seremos no futuro, quando não estivermos deprimidos, quando não tivermos esse traço neurótico, quando não sejamos assim... estamos preferindo aquele teórico do futuro. Isso nega apreço e amor pelo que é, agora. Não amar e não apreciar a pessoa como ela é, repete as condições originais do problema. Como se pode sair daí”?

 

Na relação amorosa pressupõe que haja abertura, entrega e aceitação do outro e de si mesmo tal qual se é. A relação em si é uma condição favorável para que brotem novas possibilidades em ambos quando são capazes de se soltarem de ideias fixas e ideais de segurança ou superioridade narcísica que molda o caráter da família ideal. O que se busca aí é o controle do outro e de si mesmo para garantir a posse de uma condição que restringe em muito as possibilidades de renovação e criatividade. É só parar para escutar as queixas das pessoas casadas e encontraremos a rigidez caracterológica agindo contra o medo do desamparo, do abandono, da percepção de que se existe separadamente. Todo esse apego encobre a percepção de que casais só podem estar felizes se realmente evoluírem na direção do desenvolvimento da vida profunda.

O medo que assume várias formas, tais como: desamparo, abandono, solidão, ou o traumático em si, cujo sofrimento depende da maneira como o eu se define (crenças) por ter experimentado essas condições, leva ao controle que sustenta a superficialidade que gera repetição. A repetição obscurece a possibilidade de que a vida profunda se manifeste. A repetição visa recriar as condições originais em que nos apoiamos, através dos mecanismos de defesa que desenvolvemos desde a infância.

O casamento, nos moldes da rigidez caracterológica, age como uma camisa de força que limita os movimentos naturais que buscam o florescimento do vivo em dimensões mais profundas. Chega a ser uma desonestidade para consigo mesmo e com o outro exigir que nossas parcerias nos tratem da mesma forma, ou de forma oposta, que nossas mães e pais nos trataram.

A rigidez caracterológica nos impede de sair desse lugar de guardião da repetição para nos tornarmos autores de uma vida que desperta para novas possibilidades. Sustenta uma dependência que exige coragem para ser superada.

Jorge Stolkiner nos alerta para o quanto vivemos mais entre o passado e o futuro do que no presente. Mostra que projetamos no futuro, dando uma volta de 180º nos eventos ou condições do passado visando uma compensação. Se tivemos uma infância pobre, queremos ser ricos. Se fomos ofendidos, buscamos reparação da ofensa, ou vingança. Se faltou amor, buscamos alguém que nos ame como nunca fomos amados.

Idealizar o futuro como uma compensação do passado mostra que não se está aberto para o presente. Isso constitui-se como repetição! Usamos o presente como uma tela onde projetamos o passado e sua busca de compensação no futuro. Olhar para a tela em branco permite deixar brotar a criatividade, o amor e a espontaneidade. É assim que a vida viva vai poder se realizar.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O ódio não cura o ódio.

 

O ódio não cura o ódio

Pessoas irredutíveis, prisioneiras de suas crenças, sempre acham que estão certas, mesmo diante de outros argumentos ou evidências, pois supõem que suas boas intenções justificam seus atos destrutivos.

Não estudam nem analisam a realidade, os fatos, de qualquer natureza, porque não sabem a diferença entre querer investigar a realidade e moldá-la a suas idealizações e crenças. 

Se sentem superiores em razão de suas próprias opiniões e intenções. Aceitar outras ideias é o mesmo que se submeter ao que combatem pois estão certas de que se todos pensarem como eles, irão alcançar um paraíso na terra.

Receber ajuda ou, simplesmente escutar os que pensam diferente, significa que serão manipuladas ou controladas, excluindo assim tudo que não reflete suas crenças e valores que só fortalecem no senso de identidade grupal. 

Podem reagir com muito ódio pois assim evitam sentir a fragilidade, a falta de sentido e  o vazio de suas vidas. Vivem uma vida mediana e tediosa, facilmente seguem líderes que se inflam de um poder igualmente vazio. São facilmente iludíveis pois se excitam com discursos exaltados e raivosos que prometem o que não têm para dar. E, geralmente, não se reconhecem como formadores de seitas, pois lhes falta autocrítica e capacidade de se implicarem no que vivem. 

São tão dignos de compaixão quanto qualquer sofredor que se deixa levar pela ignorância. A compaixão nos serve também de proteção do espelhamento que o ódio irracional dos outros nos provoca. A compaixão não os redime nem alivia a responsabilidade por seus atos, quando são destrutivos. Mas, inverte a lógica da ignorância travestida de sabedoria que diz que ódio deve combater o ódio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O poder do luto

 

O poder do luto

Geralmente, a palavra luto não é bem-vinda pois representa perda, dor e tristeza. No entanto, o luto é um processo normal da vida uma vez que, constantemente, sofremos perdas reais ou simbólicas. Uma das perdas mais importantes é a da infância. Não somente como uma condição física, pois perdemos o corpo infantil, mas também e, principalmente, como perda das posições psíquicas da criança. O que obriga ao adulto a reconstituir sua autoimagem. Ao longo da vida, essa reconstituição se repete a cada novo ciclo. Infância, adolescência, juventude, maturidade, adoecimento, velhice e morte requerem constantes reformulações do senso de identidade. Incluindo a própria finitude. O que se dá graças ao trabalho de luto. Concluir o luto da infância e das fases seguintes abre portas para a renovação de si. É uma verdadeira faxina em favor do novo. Ser capaz de perder é o que nos permite ganhar. Na falta deste trabalho de luto, ou lutos, nos tornamos adultos frágeis, frustrados, incapazes de nos reconhecermos como seres com vida própria, criativos e estruturados pelo poder de ser único.

Adultos que ainda não completaram o trabalho de luto da mente infantil, estão confusos entre a exigência de cumprir seus deveres e a incansável busca de realizações baseadas nas fantasias da infância. Sentem orgulho de uma superioridade vazia, são pretenciosos quando opinam sobre o que não entendem, desdenham dos especialistas de verdade, são submissos a líderes políticos e religiosos, creem em certezas mal fundamentadas, tendem ao fanatismo e a uma religiosidade imatura pois veem Deus como uma figura paterna que lhes oferece proteção em troca de bom comportamento. Uma vez que duvidam de si mesmos pois se baseiam numa autoestima precária, acreditam em promessas de salvação e na possibilidade de viver num mundo ideal. Se vitimizam quando sofrem perdas reais ou simbólicas pois não fizeram o trabalho interior que os levaria a serem mais seguros de si, apesar das incertezas da condição humana. Alimentam falsas esperanças em detrimento do que a experiência lhes mostra. Poder perder e se renovar nos torna aptos a crescer contando mais consigo mesmo do que com as promessas dos falsos profetas e dos políticos de má fé.

O poder do ódio

 

O poder do ódio

Ódio é uma forte reação emocional que brota diante do amor frustrado. Sente-se ódio ao lembrar-se dos abusos sofridos na infância por adultos que nos deveriam amar e proteger. O ódio age como uma defesa contra a dor diante da perda de algo importante, alguém ou um ideal pelo qual nos apaixonamos. Odiar é parte importante do processo de luto. Odiamos quando percebemos que nos deixamos enganar pelo vendedor de sonhos impossíveis. Tal vendedor pode ser um líder político ou religioso, um professor, um guru, uma mulher ou homem que nos promete apaixonadas realizações de desejos que nos livram da responsabilidade de promover nossa própria felicidade. Pelo contrário, esses vendedores de sonhos tiram de nós o que não queremos dar: nossas próprias ilusões! O mais difícil do processo de elaboração das perdas é aceitar o autoengano por trás do desejo frustrado. Depositamos no outro toda fé e esperança enganosa e por ela lutamos até a morte.

Odiaremos enquanto não aceitarmos que somos os autores da falácia. Sem essa autocrítica, ninguém supera a dor e o medo da repetição. Portanto, se a ilusão ainda não se desfez, aceite seu ódio. Mas não destrua pessoas ou objetos materiais. Tais pessoas ou coisas foram agentes do fabricante de ilusões que mora dentro de cada um de nós. É esse fabricante que nos coloca na posição de dependência, de discípulo, de seguidor, de submissão a um salvador qualquer. Muitos se dizem apoiadores de uma igreja, partido político ou líder, mas não enxergam que estão se apoiando neles quando não conseguem se sustentar em si próprios. Neste caos, não odeie o mensageiro. Não procure culpados da sua imaturidade e negativa em enxergar a realidade. Pelo contrário, busque em si mesmo as causas da sua dor.

Odeie até compreender que o que precisa ser destruído é a sua tendência a crer que a tal da esperança direcionada para o outro está corroendo a sua capacidade de transformar sua vida, dando-lhe sentido e dignidade. Odeie até poder reconhecer suas tendências infantis a crer em falsos profetas que prometem um paraíso que irá poupar-lhe do trabalho de se tornar você mesmo e realizar seus talentos e capacidades.

Seu ódio vai deixar de se manifestar como depressão quando você aceitar que o criador de ilusões que mora em você está lhe culpando e atacando pelo fracasso de suas idealizações.

Enfraquecidos pela esperança depositada no outro, nos tornamos cegos para nós mesmos, negando aquilo que verdadeiramente pode nos trazer paz, amor e realizações significativas. Seu ódio vai passar quando você aceitar o amor por si mesmo e pelas causas que cultivam a vida viva em vez de se apoiar na crença em um mundo ideal. O processo civilizatório é lento.

Seu ódio vai durar enquanto você continuar acreditando que os inimigos estão fora de você e devem ser combatidos. Não nos tornamos melhores por aquilo que criticamos, condenamos e afastamos. Melhoramos quando lutamos por aquilo que agregamos enquanto valor.

Seu ódio vai durar enquanto você não aprender a separar emoção de ação. Emoções são dinâmicas. Duram um certo tempo e depois acabam. Ações têm consequências que precisam ser avaliadas. A sabedoria vem quando deixamos de transformar qualquer paixão frustrada em ação destrutiva. As emoções não podem ser evitadas, mas podem ser tratadas, cuidadas, até amadas. Já as ações podem ter consequências irreparáveis.

O ódio tem o poder de destruir, mas, se formos inteligentes e cuidadosos, o tomaremos como uma fonte de energia para enfrentar a verdadeira origem do sofrimento que vem das ilusões e da esperança  de viver num mundo ideal, que quer nos poupar de sermos responsáveis pelo nosso crescimento e superação.

domingo, 1 de maio de 2022

O ganho que a perda nos traz.

 Geralmente abordamos nossos conflitos a partir do sofrimento e nos perdemos das capacidades que nos diferenciam das partes em conflito. Quando isso ocorre há uma tendência a se anular o 'si mesmo' e se tornar uma presa das crenças e dos Estados de Ego emocionalmente disfuncionais, formados a partir dos restos emocionais das experiências traumáticas de perda, agressão, abandono, etc.

Depressão e ansiedade não são um destino a não ser que nos deixemos levar por essa falta de sentido de si mesmo que estava oculta enquanto o eu se inflava orgulhoso, pelo contexto, por aquilo que vinha dos outros, como elogios, amor, reconhecimento profissional,... pela falsa sensação de segurança absoluta obtida pelo ideal de superioridade. Parece que a maior capacidade do 'eu ideal' é difundir a ilusão de que o 'si mesmo' é mais do que realmente é. E é essa ilusão que faz pensar que a cura da perda será obtida pelo retorno da mesma condição, o que só alimenta a repetição neurótica.
O processo terapêutico adequado, ou a forma adequada de elaboração, é a que ajuda ao 'si mesmo' a assumir a liderança separando o passado do presente, o imaginário do que é real, o interno do que é externo e a realizar o discernimento entre o eu engrandecido, que se definiu a partir do desejo do outro, feliz enquanto era escravizado, daquele que se realiza pelo próprio desejo, ou pelas próprias capacidades.
Nesse si mesmo esclarecido, desiludido, redimensionado pela humildade, (que tendemos a evitar pois o 'eu ideal' tende  a interpretar como inferioridade, mas que na verdade é a função que nos permite ver as coisas como são e não como gostaríamos que fossem), pode então prevalecer o amor próprio como suporte da dignidade que sustenta o amor pelo outro, como um transbordamento e não como uma dependência ou um remendo da autoestima. Esse si mesmo esclarecido, se revela depois que o luto o libera; não exclusivamente do objeto perdido, mas principalmente, do fracasso do eu autoengrandecido. Uma ilusão de superioridade através da qual o 'si mesmo' se definia.
O sofrimento pela perda de um amor ou de um lugar de importância requer um processo de luto que se dá diferenciando o objeto perdido da ferida narcísica aberta,  à qual tendemos a dar mais importância.
É desse si mesmo libertado das suas ilusões que descobrimos que o prazer de amar é maior do que o de ser amado. Que importa mais dar sentido à vida do que esperar que o sentido venha dos outros. 
Esse é o ganho que a perda nos dá. 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

 


Compaixão: uma breve reflexão

Antonio Ricardo Teixeira – Psicólogo clínico

Ouvi o termo compaixão pela primeira vez, há muitos anos, quando tomei contato com o budismo. Nunca soube ou encontrei em nenhum texto psicanalítico qualquer referência à compaixão. Capacidade de amar, sentimentos sociais, empatia, sim. Isso é compreensível uma vez que todo esforço da psicanálise é no sentido de estruturar um eu capaz de se relacionar com o inconsciente e com o mundo. Isso parte da ideia de que existimos separadamente em relação aos outros e ao mundo. Um psicanalista poderia ainda fazer uma “pegadinha” com a palavra com (acompanhado)- pai (Lei) – chão (Princípio de realidade). Porém, no budismo o termo é empregado para descrever outro tipo de compreensão. Diz-se que quando Sidharta Gótamo se iluminou, ou seja, despertou para a natureza profunda da realidade humana em si, passou a ser chamado de buda, que quer dizer, aquele que se libertou de todo sofrimento. Daí, ao compreender a natureza do sofrimento, e dela se desapegar, também chamado de ignorância, sentiu uma enorme compaixão por todos os seres e resolveu compartilhar seus conhecimentos adquiridos através da prática intensa da meditação. Seu conhecimento não se restringia a uma mera compreensão intelectual. Ele também propôs um método prático que consiste numa conduta moral e na prática meditativa que conduz à sabedoria.

Podemos ver a compaixão em três níveis de compreensão. O primeiro é saber que existem pessoas que a sentem e desenvolvem ações supostamente benéfica para os outros. O segundo é quando intelectualmente tentamos definir o termo comparando-o e diferenciando-o de empatia, simpatia, piedade, pena e solidariedade. Cada um, a partir do seu nível de compreensão, busca a melhor definição, confundindo ou esclarecendo que compaixão nunca será uma forma de perpetuar a ideia de que existimos separadamente, pouco havendo o que nos una, pois a compaixão emerge quando a temos como uma experiência de dissolução das várias camadas que chamarei aqui de “estados de ego”,  que é o terceiro nível de compreensão.

Tentar buscar definições intelectuais sem tê-la como uma experiência é dar à compaixão um caráter piegas. Através do budismo entendemos que alcançar tal nível de compreensão depende de uma profunda renúncia a se estabelecer como um ego diferenciado e sólido. Precisamos de suficiente humildade para dizer que, de onde estou agora, não consigo alcançar tal compreensão. Mas, posso entender o que a compaixão não é. Não é uma consciência moral, por exemplo, pois essa vem do senso de dever para com o outro e faz parte de um pacto social no qual tentamos proteger as relações humanas. Se assim o fosse, a compaixão seria uma tentativa de empurrar para o fundo da consciência todas as cargas negativas que poderíamos projetar nos outros que resultariam em agressões frente ao que nos ameaça, negligência diante das necessidades dos outros, ou indiferença no que se refere ao sofrimento alheio. Isso colocaria a compaixão numa polaridade, oposta ao que foi acima descrito. Ou seja, a compaixão emerge quando cessam as polaridades.

A compaixão também não é uma expressão de um ego que se enobrece pelo ideal de superioridade narcísica. Neste caso, a compaixão se apresentaria como uma forma de inferiorização do outro por suas necessidades, temores, sofrimentos e condicionamentos limitantes.

Podemos dizer que a solidariedade é uma expressão do ego que se reconhece tão débil quanto o outro em seu desvalio. Encontraremos solidariedade entre os torcedores de um time de futebol que acabou de perder um campeonato. Entre profissionais de saúde assoberbados pelos traumas da covid. Entre familiares ou grupos que se unem por uma identidade comum. Também podemos encontrar solidariedade pelos que passam fome, são vítimas de qualquer tipo de agressão, etc. Um colega de trabalho que foi humilhado pelo chefe pode receber solidariedade dos colegas. Mulheres podem se unir solidariamente contra homens violentos. Mas, não podemos dizer o mesmo da compaixão pois essa engloba a condição humana e sua propensão ao sofrimento. E também a tudo que vive, incluindo animais e plantas. Não há sectarismo na compaixão pois ela tem um caráter universal.

Aqui vemos que é mais fácil dizer o que ela não é, pois, para experimentarmos compaixão no sentido budista, precisamos de um processo meditativo que nos leve aos planos mais elevados da mente. Ou melhor: do sistema corpo-mente-energia. Quando a compaixão envolve um ato de solidariedade, não há nenhum interesse pessoal em tal ato. Psicanalistas, filósofos ou qualquer pessoa que tente elaborá-la, têm a mesma dificuldade de definir compaixão para além do intelecto sem dispor da experiência meditativa. Só conseguem vê-la em termos intelectuais.

O escritor e terapeuta corporal Sérgio Veleda* (Autor do livro "budismo: a arte de equilibrar-se sobre um fundo vazio"), numa conversa pessoal, lembrou que no "Mahayana budista, sabedoria e compaixão são indissociáveis... a compaixão brota de uma visão clara, limpa, pontiaguda e penetrante da sabedoria. A visão de que nada é sólido e que a vacuidade é o campo da compaixão, no entendimento supremo do sofrimento". Isso nos diz que só a compreenderemos se a tomarmos como efeito de uma transcendência. Porém, tal compreensão costuma ser obliterada pela confusão mental causada pelas certezas criadas pelos sistemas de pensamento que tentam dar solidez ao insólito.  Ou pelo que podemos chamar de barreiras narcisistas de contato que se alimentam da cobiça, do apego e da aversão.

Lembro-me de uma estória contada por Claudio Naranjo em seu livro "Entre meditação e psicoterapia". "Um peixe começou a perguntar para os outros peixes se sabiam o que era água. Alguns diziam que já tinham ouvido falar, outros nada sabiam. Então, resolveu nadar pelos mares em busca de uma resposta. Quando voltou já estava velho e uns daqueles que o conheciam lembraram-se dele e lhe perguntaram: você encontrou a resposta? descobriu o que é água? Ele então disse: Sim. Mas se eu lhes disser, vocês não vão acreditar".

domingo, 20 de dezembro de 2020

O amor e suas inquietantes questões

 

O amor e suas inquietantes questões.

Autor: A. Ricardo Teixeira Psicólogo


Amor. Que tema amplo! Que confusão e que grande solução para a vida! Será que um dia o amor será capaz de evitar novas guerras?
O que dizer do amor através do tempo? Seria mais apropriado então falar de amores. Mas aí, não é só dele que se trata senão dos objetos de amor. Do amor entre dois.
Só sei que o melhor amor é aquele que se vive no presente. No agora. Do passado só boas lembranças e aprendizados.
Mesmo temendo os egos dos amantes.
Sim! O maior perigo que o amor vive vem dos egos dos amantes. Seja amor a dois, a três ou a todos. Quando o amor vai além de seus objetos.
Mas, o que seria do amor sem um bom ego para administrar sua intensidade desmedida e sua tendência à expansão?

Não. O amor não precisa de um ego fixo e controlador. Precisa que os amantes nele confiem e não que dele desconfiem.
Tomado pelos estados de egos*, o ato de amar se torna egoísta. Quer tudo só para si. Nesse caso ele, o amor, adoece e morre, pois, prefere morrer a servir ao ego inflado por sua ganância, seu consumismo e pretensão. Isso faz o amor rimar com dor. 
Quando o ego é sofrido por nunca o ter conhecido, ou por não saber como absorvê-lo, se constrange diante da grandeza serena do amor e tende a fugir. Foge da dor do amor frustrado que nunca deixou que entrasse em todo o seu ser. Se refugia nas representações que o definem. Faz prevalecer a tendência neurótica do ego sob a forma de narcisismo. Opta pelo isolamento ou pela popularidade, onde segue as tendências da moda, revisitadas em diversos modos de realizar desejos sem profundidade. Torna-se um verdadeiro consumista de sexo fácil, superficial e descartável. É impulsivo, imediatista e voraz na busca insaciável pelo preenchimento do vazio e da pobreza de sentido que tem todas as vidas que não se empenham em se superar. É mal humorado diante do que não lhe convém e permissivo como se tudo que reflete uma superficial liberdade de ser fosse o ideal da vida.

Porém, se confunde e se perde de si diante de uma proposta verdadeira de amor.  Se aceitar a angústia que amar de verdade lhe trará, poderá sobreviver aos temores, mas, terá que aceitar a transformação que isso vai lhe causar.
O ego, diante do amor, assume várias formas. Umas tangíveis pela consciência. Outras silenciosamente vão assumindo o controle da situação, não deixando que o amor se desenvolva.

O ego pode ser fugidio e covarde impedindo que o amor entre e se estabeleça tão logo a paixão acabe. É nessa hora que o ego do outro é avaliado. Enquanto na paixão o outro é encantador, no amor o que vai aparecer é a admiração. Através da admiração o amor oculto vai se revelar e ter em que se apoiar. O ego só é admirável quando pode abrir mão de uma parte do individualismo para recebê-lo. Porém, irá enfraquecer o seu crescimento se agir com manipulação e distanciamento. Só o ego humanizado pela humildade frente ao fracasso do ego ideal é capaz de sustentar o amor entre dois seres igualmente vulneráveis e influenciados pelo amor mútuo. Para isso é preciso aceitar que só perdendo se pode ganhar. Aí vai poder dizer: preciso de você porque te amo. Preciso de você para poder amar através de alguém que também sabe renunciar ao que não é para poder realizar o que tem.
Se o ego é frágil, carente e submisso tende a se anular frente a dependência do objeto de amor. Afinal, sua pobreza, que pode não ser material, não o deixa desfrutar da riqueza do amor.  A mensagem profunda da riqueza material não é a soberba nem a posse. Mas, a capacidade de absorvê-la na sua forma mais preciosa: O amor. O ego auto desvalorizado também desvaloriza o amor. Mas, o ego auto inflado é uma armadilha.
Soberbo, solidário, inseguro, evitativo, empático, controlador, orgulhoso, dominador, submisso, honesto, egocêntrico, cuidadoso, irado, apoiador, carente, invejoso, ciumento, possessivo, competitivo, vítima, fantasioso, voraz, ávido, angustiado, julgador, medíocre, acolhedor etc. muitas são as possibilidades que os egos dos amantes podem assumir.

Quando o ego não mais disfarça suas tendências neuróticas ou virtuosas, honestamente assume sua ignorância diante do amor, que se expressa por suas próprias leis,  se curva diante dele e o deixa crescer.
O ego precisa entender que sua presença se torna desnecessária quando o amor encontra eco e sentidos nas trocas fluidas dos corpos. Ou na renúncia materna, no cuidar dos filhos ou de alguém necessitado. Ou ainda na dedicação a uma causa. Só a sua renúncia fará o amor preencher todas as células do corpo, uma vez que este é, em essência, uma qualidade pulsátil.

Se estiver dissociado do próprio corpo, o ego do amante tentará apreender o amor através da mente o que restringe a percepção da dimensão transcendental do amor. Trata-se de poder captar o amor através da experiência que está além das palavras. Perceber que existe diferença entre o amor do ego e o amor do ser que se mostra através da dimensão mais ampla e profunda da consciência captada como uma percepção sensorial.
O nascimento e fortalecimento do ego se dá no campo da ameaça. Egos nascem e crescem através das onipotentes batalhas infantis em defesa do desamparo, da dor, da constatação da assimetria entre si mesmo e o outro a quem se ama parcialmente enquanto dele se depende; a mãe. O ego em formação é imaturo e alterna entre o amor e o ódio que estão na base da ambivalência da qual o adulto aprende a reconhecer e a renunciar. Se sente inferior mas é pretensioso ao forjar superioridade para mascarar sua inconsistência.
Quando o ego adulto reconhece sua assimetria  frente ao  ego do outro, renuncia a si mesmo como quem se lança no abismo confiante de que será amparado pelo amor. Esse reconhecimento é efeito do tempo e do trabalho psíquico através de suas próprias experiências. É quando a história pessoal é revisada e ressignificada. E deixada de lado para dar passagem ao novo. Exige coragem e paciência consigo mesmo.
Aí então se forma um vínculo amoroso. Caracterizado pela confiança mútua na comunicação sincera e despretensiosa. Sem medo de ser quem se é de verdade. Sem querer competir por uma falsa superioridade. É o fortalecimento do vínculo amoroso que fará vencer as tendências críticas geradas pelo julgador interno. O vínculo amoroso sabe comunicar as contradições do ego sem permitir que a vergonha pela vulnerabilidade humana seja objeto de ataque crítico.
Vínculo amoroso é uma forma de comunicação entre os seres que trocam entre si os mais diversos assuntos. Desde o que vamos comer hoje até os anseios e questões mais complexas da existência. Permite o dar e receber que reconhece a importância da satisfação e do bem-estar do outro. O vínculo amoroso permite que a troca seja justa. Apoia o crescimento mútuo. Se alegra com a alegria do outro.   É empático e solidário diante das diferenças individuais, do sofrimento e dificuldades do outro.
O vínculo amoroso é uma via de mão dupla que dá acesso ao ir e vir do desejo, na forma própria em que se apresenta em cada um.
É quando são desconstruídos os mitos e falácias sobre o amor ideal, que é uma forma de tentar controlá-lo,  que o vínculo amoroso permite que a capacidade de amar seja nossa maior fonte de energia. O que mais pode o ego liberto de suas demandas infantis querer do seu objeto de amor senão a possibilidade de amá-lo?

sexta-feira, 27 de março de 2020

ELES NÃO SÃO IDIOTAS

Eles não são idiotas
Desde que o diretor geral da OMS, Tedros A. Ghebreyesus avisou que estamos passando
por uma pandemia, vários infectologistas e epidemiologistas avisaram que a velocidade de
propagação do vírus era enorme e que a quarentena é uma questão de sobrevivência pois
nenhum sistema de saúde no mundo poderia dar conta de atender à todos os infectados.
No entanto, muitos resolveram negar a gravidade da situação e passaram a apresentar
justificativas baseadas na queda da produção econômica e seus danos. Negar que sobreviver
é mais importante do que manter a produtividade, empregos, etc. não é uma mera idiotice.
Demorar a ver a gravidade de uma situação tem a ver com a maneira como a pessoa lida com
o que pode afetar seu senso de equilíbrio, o risco. Enquanto alguns são (até excessivamente!)
previdentes cuidando preventivamente da saúde e da sua segurança financeira, outros vão
em frente sem imaginar que possam ser afetados. Quando os prédios da Muzema caíram
um engenheiro especialista em construção em áreas vulneráveis disse que "o brasileiro
tende a ter baixa percepção de risco". Ou seja, tende a se proteger do infortúnio através
do pensamento mágico. Isso é assim em todas as classes sociais. Ricos, classe média ou
pobres. Os incautos sempre têm uma defesa (racionalização) para não aceitar que precisam
se reorientar, reposicionar e/ou se reinventar. Enfrentam precariamente seus medos atacando
os mensageiros. Quando estão perto de perceber que suas próprias conclusões estavam
erradas, pois a realidade se mostrou discrepante, passam a se defender com agressões e
xingamentos. Até então, supostamente ainda estão no controle da situação. O analista sabe
que estão se defendendo de uma percepção traumática que pode se despertar profundamente
trazendo desespero, dor, pânico e desamparo. Eles não são idiotas porque negaram o perigo!
Estavam apenas se defendendo para não cair no desamparo emocional. Só que, quanto mais
se aproxima o aspecto crítico da situação, mais agressivos tendem a se tornar. Portanto,
não alimentar polarizações politico ideológicas nessa hora é uma boa forma de evitar que
a pandemia vire um pandemônio. Paciência com os incautos pois eles não são capazes
de enfrentar o perigo sem se deixar devastar. Logo terão que recuar diante do óbvio. E aí,
precisarão mais de amparo do que de críticas. Afinal de contas, "as coisas caem por seu próprio
peso"! A. Ricardo Teixeira Psicólogo clínico.

domingo, 22 de março de 2020

Reflexões sobre EMDR online


Reflexões sobre EMDR online
Autor: A. Ricardo Teixeira Psicólogo Clínico CRP01-6578 (Ex-CRP05-8613) Supervisor de EMDR.
Introdução
As psicoterapias em geral seguem as tendências atuais de que tudo deve ser consumido rapidamente. EMDR desperta essa tendência. Talvez você já tenha contado o número de páginas deste texto e está decidindo se vai lê-lo todo ou apenas algumas partes. Eu também faço isso, muitas vezes. Porém, quando o assunto diz respeito à minha prática clínica, sou mais lento. Procuro absorver cuidadosamente as palavras até alcançar seu sentido mais profundo. Se você quiser seguir esta sugestão, espero que encontre o mesmo prazer que tive em escrevê-lo. Ao final você pode encontrar meu email e me enviar suas observações, críticas ou dúvidas.
Venho praticando EMDR desde 1999 coincidindo com minha mudança para Brasília onde vivo desde então. Aprendendo com a experiência e ajuda de colegas, leituras e listas de discussão. Quando comecei não tínhamos toda a estrutura que temos hoje composta por treinadores, supervisores, cursos complementares sobre dissociação, TEPT, Trauma Complexo, Dissociação, Ego States Therapy,  etc.  Naquela época tínhamos uma treinadora que vinha duas vezes por ano, os livros em inglês e espanhol e uma lista de discussão por email em inglês. Me apoiava também no  que dava sustentação à minha clínica analítica corporal reichiana, a saber: o conhecimento do corpo e as funções dos bloqueios emocionais (couraça caracterológica) e análise do caráter. A compreensão da importância da relação terapêutica desde os seus pilares humanistas e psicanalíticos com ênfase no inconsciente, na transferência, contratransferência, resistência, contrarresistência, apoio e confrontação, dificultando ou facilitando a elaboração dos conflitos e traumas emergentes. No que tange à relação terapêutica, a importância de um encontro vivo, guiado pela empatia, que na linguagem reichiana seria a percepção de campo, em que a sensação do terapeuta é levada em consideração na avaliação e compreensão daquilo que se comunica. Temos também a leitura corporal, a observação da respiração, dos gestos espontâneos, o olhar enquanto se fala, a postura, as mudanças de coloração da pele, o caminhar, o chegar e o partir e tudo o mais que se pode perceber quando se abre o olhar com a mente de principiante para além da fala.
Quando o EMDR entrou na minha prática pude confrontar-me com questões que antes não me tinham sido postas. A natureza da memória traumática e a possibilidade de elaborá-la numa dimensão mais ampla que se traduz no que chamamos de Dessensibilização e Reprocessamento. Eu já conhecia o poder dos movimentos oculares através da prática dos “actings” que são uma sequência de movimentos, a começar pelos olhos, desenvolvida pela Vegetoterapia Caractero-Analítica criada por Wilhelm Reich e sistematizada por Federico Navarro que visa o desbloqueio da energia no corpo e o estabelecimento do fluxo e da pulsação energética como base referencial para a saúde física e psíquica. No entanto, integrar o protocolo básico do EMDR potencializou a eficácia dos actings pois vi que o EMDR seria mais uma estratégia de desbloqueio. EMDR também trouxe a possibilidade de oferecer uma nova modalidade de psicoterapia breve. Isso me exigiu um reposicionamento frente aos aprendizados anteriores sem desprezar seu valor e  importância quando o objetivo da terapia era alcançar os resultados propostos pelo modelo reichiano. EMDR entrou aí
como uma ferramenta complementar com ótimos resultados.  Até então, mais uma técnica!
Quando Francine Shapiro, tomada pelo entusiasmo vindo do sucesso do EMDR com outros transtornos além do TEPT, naturalmente requisitou para o EMDR o status de abordagem terapêutica, permitindo que os terapeutas se intitulassem terapeutas de EMDR, mantive minha orientação teórica e técnica e passei a ajudar colegas que me pediam supervisão a situar e diferenciar o EMDR frente às questões de cada cliente. Uma coisa importante que aprendi com o Dr. Reich é que a técnica deve ser adaptada ao paciente e não o contrário. Isso implica em desenvolver domínio sobre o manejo da transferência e o uso de técnicas que podem produzir efeitos desejáveis e adversos tais como: ab-reações emocionais, as reações dissociativas de congelamento e as defesas vindas do padrão lutar ou fugir. Além disso, apurar o tino clínico para diferenciar o grau de tolerância que cada paciente apresenta ao movimento da energia no seu sistema corpo-mente. Vi também que muitos terapeutas estavam aplicando EMDR de forma mecânica, sem se preocupar com a importância da relação terapêutica e tratando o método como uma panaceia.
Uma nova necessidade de reposicionamento se mostrou evidente quando os avanços da internet trouxeram os aplicativos de conversas ao vivo tipo Skype. Alguns clientes que se mudaram de Brasília e queriam continuar suas terapias comigo me solicitavam que continuasse a atendê-los(las). Em princípio, relutei um pouco em aceitar. Como poderei dar continuidade ao que  penso ser a melhor maneira, para mim, de atender sem perder a qualidade? Responderei mais adiante.
No momento em que escrevo este texto, estamos em 21 de março de 2020 e a pandemia causada pelo covid-19 ainda não chegou ao seu pico. Ontem a previsão feita pelo ministro da saúde foi de que chegaríamos ao auge da crise em abril. Os Conselhos de Psicologia liberaram psicólogos a atender através dos aplicativos online. A orientação é que se evite sair de casa. Alguns colegas de EMDR pediram ajuda sobre como fazer atendimento online. Vi algumas orientações importantes e resolvi compartilhar através deste texto minha experiência.
A colega e treinadora de EMDR Rita Silva enviou um breve texto que dá orientações práticas e agregou algumas outras oferecidas por um psicólogo de Portugal sobre como atender crianças online com EMDR. Acredito que são recomendações válidas e que devem ser seguidas. Estão inseridas abaixo.
Porém, trago aqui outros aspectos da clínica que considero importantes serem levados em consideração como uma ampliação ou aquisição de recursos que podem dar mais segurança ao terapeuta e ao paciente.
Relação terapêutica
Minha primeira escola de escuta terapêutica foi no ano de 1978, ainda estudante, no estágio em que participei oferecido pelo psicólogo José Luis Belas, no Hospital Estadual Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói-RJ. Belas é um psicólogo rogeriano e com ele aprendi a escutar pacientes através da Empatia, Congruência e Aceitação Incondicional. O hospital oferecia atendimento ambulatorial a pacientes não internados. Minha segunda escola foi psicanalítica na qual estudei o emprego da atenção flutuante e o manejo da transferência conduzindo à elaboração. A terceira foi reichiana. Reich, em sua perspicácia descobriu a importância de se sentir no corpo as sensações que emergem do contato com cada paciente. Ele chamou isso de sensação de órgão e considerava a base para um método de investigação da vida viva. À forma de entender as sensações chamou de pensamento funcional. Não vou me deter nestes aspectos pois tomaria muito tempo e nos distanciaria da reflexão proposta. Acrescento apenas que toda esta compreensão foi bastante aprofundada com a ajuda dos estudos teóricos e técnicos de Milton Erickson, Peter Levine e, a partir de 1994, dos Seminários Técnicos do Dr. Jorge Stolkiner.
Até então, os elementos que funcionam como base de sustentação e impulsionamento do processo terapêutico são baseados na combinação destes fundamentos da relação terapêutica com as técnicas de desbloqueio energético. Com a entrada do EMDR no meu campo de ação, entraram o protocolo básico e os Estímulos Bilaterais aos quais sou muito grato a Francine Shapiro.
Os três tipos de escuta integrados; empatia, congruência e aceitação incondicional, a atenção flutuante e a percepção de campo através da sensação ganharam então mais um aliado: o protocolo básico e a E.B..
O manejo da transferência
Ainda na  década de 1980 tive contato com um texto de Davis Boadella chamado “Transferência, Ressonância e Interferência”. Se você chegou até aqui nesta leitura, certamente seu interesse vai aumentar quando ler o que tenho a dizer sobre este texto e vai querer lê-lo também. Veja como encontrá-lo nas referências bibliográficas abaixo.
Boadella analisa  o fenômeno da transferência e da contra transferência a partir da concepção de Reich que define a personalidade em três camadas: Máscara, segunda camada e núcleo. Sendo máscara a parte mais superficial da pessoa, segunda camada é o recalcado, aquilo que Jung chamou de sombra e onde podemos incluir o trauma e tudo o mais que a máscara rejeita. E o núcleo é o cerne biológico, de ondem partem os impulsos mais genuínos.
(No sistema criado por Richard Schwartz, Internal Family Systems, o núcleo é o Self com seus atributos a que chama de 8Cs. Calma, Conectividade, Criatividade, Confiança, Coragem, Clareza, Curiosidade e Compaixão.)
Este texto deu mais sentido e orientação à minha prática e confiança na direção proposta pela visão reichiana. Certamente que ao longo dos anos, muitas terapias, meditação Vipassana, análises e estudos, muitos elementos foram acrescentados aos eixos referenciais. Como este texto não é uma auto biografia, o que segue a partir daqui é o que mais interessa aos terapeutas de EMDR que já atendem ou querem começar a atender online. Tudo que apresentei até aqui foi minha base teórica e a direção do tratamento mesmo com EMDR, para além do Suds 0 e do VOC 7.
EMDR enquanto movimento
Enquanto EMDR era somente uma técnica para trauma, podendo ser empregada em situações de catástrofe tanto quanto em lembranças traumáticas antigas, não precisávamos nos preocupar com o Self. Esta seria uma questão adotada pela abordagem que fundamentasse o terapeuta. Como no meu caso, a abordagem reichiana. EMDR entrou no meu contexto teórico e procurei ajustá-lo ao que tento oferecer aos clientes como uma forma de direcionar meus procedimentos. Vários outros colegas, de muitas abordagens diferentes, fizeram o mesmo. Ou o emprego no atendimento a situações de crise.
Mas, se o EMDR pretende ser uma abordagem, precisa definir uma teoria do Self e a ele direcionar seus protocolos e procedimentos. Caso contrário, seu conceito de cura será limitado ao rápido desaparecimento dos sintomas. Tipo “fast-therapy” sem nenhum compromisso com a realidade emocional e psíquica mais profunda.
Certamente que para situações de crise, EMDR exerce muito bem o seu papel. Porém, a falta de uma possibilidade de analisar as questões num nível mais profundo tende a trazer à tona aspectos destrutivos das personalidades que não foram sequer tocados. Ocorre então o que ocorreu em muitas escolas de terapia. Inveja, competição, disputas de poder sustentados por uma postura arrogante e orgulhosa, vinda da eficácia da técnica e insegura devido à falta de prevalência do Self. Aí vemos terapeutas que se propõem a tratar trauma aprofundando suas divisões internas no contexto relacional do movimento. Como disse uma terapeuta no início da criação do movimento EMDR: “EMDR desperta a cobiça dos terapeutas”. De que forma será que isso afeta os clientes?
Reich analisou profundamente o potencial destrutivo do humano num texto chamado “praga emocional” que é encontrado num capítulo de um dos seus livros mais importantes; Análise do Caráter. É perfeitamente compreensível que, à partir daí, nenhuma teoria sobre o psiquismo fique restrita a explicar o comportamento analisando apenas o cérebro sem contudo diminuir a importância da neurociência.
EMDR em ação
A principal função da Estimulação Bilateral (EB) é aprofundar a capacidade de contato permitindo que as cinco partes da memória se integrem e se transformem na direção do self. São elas: Imagem, Significado, Emoção, Sensação Corporal e Comportamentos.
O protocolo básico ativa estes elementos e a EB impulsiona as tendências autorreguladoras através do PAI (Processamento Adaptativo de Informação), reprocessando aquelas memórias. Como afirma o psicólogo e supervisor também pioneiro na difusão do EMDR no Brasil, José Guilherme Duque de Moura, “o PAI é a expressão neurobiológica do SELF”. O processo culmina com a revitalização do sistema corpo-mente-energia. O contato profundo é também impulsionado pela ressonância entre terapeuta e paciente. Conforme disse Boadella, a ressonância pode sofrer interferência da transferência e contratransferência.
A escuta das sensações do(a) terapeuta e do(a) paciente é movida pela intenção terapêutica, que é o motor que aponta na direção do núcleo do paciente. A fase do Reprocessamento (3 a 7), conecta o paciente à sua segunda camada onde está toda confusão mental e emocional causada pelo trauma. É de grande importância que o terapeuta esteja protegidamente sensível e claramente motivado a propiciar que o/a paciente atravesse seus conteúdos traumáticos com a intenção de alcançar o self e não retornar à máscara. Se o terapeuta saiu demasiadamente cansado da sessão é porque não conseguiu alcançar este objetivo. Pode ter paralisado na contratransferência ou se desorientado.
Três posicionamentos diante da relação terapêutica:
1-     Omisso
2-     Confuso
3-     Funcional
No primeiro caso, omite-se a importância da relação terapêutica e a confiança obtida vem apenas da autoridade do terapeuta ou do método, que pode estar sendo empregado de forma mecânica. Veja no texto de Boadella os tipos de defesas que movem as interferências. Este tipo tende a ser um relacionamento de máscara para máscara no qual prevalece a impossibilidade de se falar da relação. O cliente não é incentivado a falar como se sente em relação ao terapeuta, tendendo a fazer um reprocessamento superficial. Obtém algum alívio dos sintomas e termina a terapia tão preso à sua máscara quanto chegou. Os clientes não mergulham nas águas obscuras que os terapeutas não suportam ter que nadar!
No segundo caso, a relação terapeuta paciente tende a ser marcada pela confusão. O cliente não desenvolve suficiente confiança para ser ele mesmo e pode bloquear o reprocessamento por entrar em resistência transferencial. Geralmente esta resistência corresponde a alguma contratransferência encoberta. O paciente pode adotar uma posição passiva, confrontativa ou dissimulada. Geralmente os passivos são tipos orais dependentes que querem e temem perder a proteção do terapeuta/pai ou mãe a quem demandam amor, segurança e aprovação. Só pensam em dar o que se espera deles em troca do amor transferencial. O trauma vem da negligência de suas necessidades emocionais.
Os confrontativos são obsessivos, masoquistas e fálicos narcisistas que são classificados como rígidos. São traumatizados pela rejeição e julgamento excessivo, crítica e vergonha. Os dissimulados são os que estão na posição histérica. Seduzindo e evitando a verdade. A sexualidade é marcada pelo abuso e não aceitação. A transferência é marcada por fantasias e desejos incestuosos. Podem ser também passivo-agressivos, agindo pelas costas de forma perversa. Estes traços de caráter brevemente descritos se engancham com as mesmas características em terapeutas superficialmente ou não analisados e podem fazer com que o reprocessamento seja parcial e igualmente mantenedor da superficialidade caracterológica.
No posicionamento funcional, o terapeuta está aberto a acolher a transferência, reconhecer a contratransferência e apto a despertar mais confiança e coragem para que a profundidade e  efeito do reprocessamento alcance o self em vez de causar um retorno à máscara. Se o terapeuta estiver orientado para o desenvolvimento do self do paciente a Estimulação Bilateral incrementa a exploração do potencial de crescimento latente no espaço relacional. A abertura do self pode ser compreendida como a abertura do coração, ou seja, as qualidades a que se refere Richard Schwartz (IFS) tem relação com sentir-se suficientemente seguro para poder ser mais amoroso e positivo. Para além do padrão lutar-fugir-congelar. Padrão este que condiciona as relações de trabalho, e as disputas de poder.

Atendimento online
A minha primeira reação negativa ao atendimento online deveu-se ao fato de que encontrando pacientes através da tela do computador ou celular poderia estar acirrando a percepção de distanciamento levando o relacionamento a um patamar de máscara para máscara.  Isso poderia ter implicações severas na qualidade do reprocessamento pois, a percepção de distanciamento pode acirrar a percepção do desamparo que pode levar à manutenção de defesas caracterológicas ou despertar muita ansiedade chegando ao pânico. A confiança que uma pessoa tem para mergulhar no reprocessamento de seus traumas é diretamente proporcional ao grau de confiança que tem no terapeuta. E isso vale até que o eixo da confiança seja transferido para si mesmo. Deste ponto em diante, é o self quem cuida. E o terapeuta apenas o reflete.
Portanto, o atendimento online pode propiciar uma percepção de distanciamento e abandono que poderá se refletir na transferência provocando fuga de contato ou da terapia. Um bom reprocessamento, que pode durar algumas sessões, é aquele que culmina na revitalização do sistema corpo-mente-energia e é percebido por ambos.
No entanto, a possibilidade de se obter respostas terapêuticas profundas e eficazes precisava ser reconsiderada a partir do contexto online.
Estas questões devem ser avaliadas em três condições: pacientes que já foram atendidos no consultório e estão fora da cidade; que estão sendo atendidos pela primeira vez, ou seja nunca pisaram num consultório. Vão ser atendidos online por causa de uma condição específica, como na que estamos atualmente (COVID-19) e depois vão dar continuidade no consultório, ou não vão passar de algumas sessões online. Ou ainda, darão continuidade em sessões presenciais quando a crise passar.
Questões a investigar
O fato do/a paciente sair de sua casa ou do trabalho para ir ao consultório implica numa ativação do processo. No atendimento online imaginariamente, o/a terapeuta ‘leva’ seu consultório à casa ou local de trabalho do paciente. Como será que isso estará sendo percebido?
O fato de não podermos ver, sentir e estar no calor do contato físico, pode ser um fator que influencia no reprocessamento? Como acirrar a percepção de presença e intenção terapêutica?
Confiar apenas na aplicação dos EBs é suficiente para alcançar a resposta de reprocessamento mais profunda?
O manejo da vergonha
A vergonha tem o enorme poder de se esconder. Está sempre presente de forma oculta ou manifesta. Fique atento(a) aos sinais de que a/o paciente pode estar se inibindo por vergonha. Na dúvida leia meu texto sobre “A clínica da vergonha” que está na bibliografia abaixo. E também as aulas gratuitas que disponibilizei sobre o tema da vergonha.
A vergonha oculta pode interferir de maneira decisiva no atendimento online, não dando tempo para agir.

Sugestões de recursos adicionais
Perguntar ao paciente como é para ele/a ser atendido desta forma. Deixar que fale um pouco sobre suas sensações e sentimentos antes de avançar no reprocessamento. Aceitar as impressões e opiniões mesmo que negativas. Se o cliente se mostra confortável não avance sem antes expressar seu verdadeiro sentimento sobre esta nova condição. Por exemplo: “Que bom que você está confortável. Eu ainda estou me adaptando. É um pouco estranho, mesmo sabendo da importância de termos esta oportunidade de trabalharmos suas questões”.
É bom sempre distinguir o sentimento da interpretação sobre o fato. Isso remete a um encontro regido pelo amor à verdade e não apenas pelo esforço em manter as aparências. O vínculo terapêutico só é sustentado pelo amor à verdade.
Caso o paciente esteja desconfortável incentive-o/a  falar sobre isso. Avalie a necessidade de empregar um pouco de EBs na percepção ruim até que esta se dissipe.
Use respiração profunda, de 2 a 5 min, antes de começar a reprocessar.
Os pacientes responsivos são mais desbloqueados nas vias eferentes, ou seja, descarregam com mais facilidade e tem mais contato com sensações corporais. Avalie se a pessoa que você  está atendendo tem facilidade de sentir sensações no corpo. Se não, considere a possibilidade de criar recursos corporais. Peça-lhe que sinta as sensações das áreas de apoio do corpo: pés no chão, cotovelos, quadris e costas apoiados na cadeira, pescoço relaxado, etc. Se ainda for difícil obter percepções de sensações, peça-lhe que massageie vigorosamente o rosto, o couro cabeludo e a nuca até que a respiração se solte e se produza respiração de coerência. Que é quando o S.N. Autônomo expressa coerência entre o ramo simpático e parassimpático. Ocorre uma respiração espontânea, desbloqueada.
O “lugar tranquilo” deve ser encontrado no corpo e a respiração desbloqueada é o melhor caminho. É uma mudança de estado favorável para recursar.  Quando peço ao cliente que experimente estas técnicas antes do reprocessamento em si e ele(a) alcança uma sensação de leveza e abertura por ter dissolvido temporariamente seu estado de tensão, explico-lhe que devemos encarar o reprocessamento da mesma forma. Ou seja: apareça o que aparecer; emoções negativas, outras lembranças, pensamentos negativos etc. o efeito resolutivo do reprocessamento deverá ser melhor ainda do que esse. Mas, para isso sua atitude deve ser aberta, curiosa e desprovida de julgamento. Demostro ainda que confio na sua percepção e que ele(a) é quem vai me dizer se está realmente bem. Quando noto que se trata de uma pessoa muito insegura e que tende a disfarçar seus sentimentos mais difíceis, digo-lhe que seu cérebro vai tentar protege-la(o) do perigo e, por mais sincera e verdadeira que seja sua disposição para acessar todos o material ligado ao trauma, seu cérebro não vai deixar que ela(e) se machuque. Assim, previno a possibilidade de que alguma parte resistente tente assumir o controle do reprocessamento.  Vê-se aqui a importância de que a aliança terapêutica esteja bem reforçada para antes de seguirmos com o reprocessamento. Principalmente em se tratando de momentos de crise quando a tendência a querer negar ou distorcer a realidade é maior. Mesmo que a realidade objetiva não seja facilmente objetivável como a que vivemos com o COVD-19. Certa vez, num grupo de formação terapêutica, propus um exercício para demonstrar o que é Aliança Terapêutica. Dividi o grupo em duplas e dei umas fitas de pano para cada par. Lado a lado, eles amarraram o joelho direito no esquerdo do(a) parceiro(a). Tiveram que caminhar dessa forma. Antes determinamos quem seria o terapeuta e quem seria o paciente. O paciente era instruído a andar em seu próprio ritmo, ora acelerando, ora diminuindo a velocidade. O que esta no papel de terapeuta tinha o desafio de seguir o paciente no seu próprio ritmo. Depois cada um falou como foi difícil!
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Seguem as instruções que a treinadora Rita Silva gentilmente me autorizou a publicar:
Pessoal seguem algumas orientações especificamente de EMDR para esse momento de crise mundial pois será mais seguro para todos se mantivermos os atendimentos on-line conforme orientação do conselhos de psicologia.
Espero que vocês fiquem bem e que continuem fazendo o trabalho necessário.
Caso precisem de supervisão contem comigo!
Forte abraço,
Rita
Orientações para atendimentos on-line com EMDR:
1- Tenha cuidado ao usar EMDR on-line em casos complexos. Orienta-se não utilizar com tais pacientes pois são necessários manejos muito específicos.  Lembre-se: muito CUIDADO. Avalie seus pacientes criteriosamente.
2- Instale sempre recursos em todos os seus pacientes on-line. Em Pacientes complexos, talvez o melhor seria reprocessar quando tudo voltar ao normal no formato presencial.
3- Tenha o telefone do contato de emergência caso precise contactar alguém se necessário;
4- Seu paciente e você deverão estar em uma sala fechada e usar fones de ouvido. Privacidade e confidencialidade, teremos de preservar.
5- MB em adultos: podemos usar o abraço da borboleta, ou então que o paciente encontre um ponto do lado direito na parede e um outro do lado esquerdo e o terapeuta ajudará a afinar a velocidade e o ângulo dos olhos. Também temos a estimulação bilateral nas pernas do paciente que o terapeuta poderá ensinar e ditar o ritmo.
6- Dê continuidade as sessões de reprocessamento de acordo com seu plano de tratamento.
7- Sempre utilize técnicas de contenção ao final de todas as sessões on-line. Consulte seu manual de EMDR.
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Logo abaixo segue orientações de Luis Filipe Gomes, um colega de Portugal, para atendimentos de crianças on-line que compartilho com vocês.

Indicações para consultas ON-LINE para crianças ( NÃO SE ESQUEÇA QUE PARA FAZER EMDR EM CRIANÇA TEM DE ESTAR HABILITADO  OU TER EXPERIÊNCIA PARA ISSO) Se não sente essa habilitação indique um colega que possa fazê-lo em segurança.
1-     1-Preparação
a)Verifique a ligação à internet. Pelo menos 40 mega de download e de upload. Pode fazer o teste da sua internet aqui https://www.minhaconexao.com.br/. Ligue-se com um cabo ao seu router pois muitas vezes a ligação WIFI não é suficiente. Assegure-se que do outro lado  também existe uma velocidade apropriada.
b)Verifique se a criança tem materiais ao  seu dispor ( playdoh) plasticina lápis de colorir, bonecos de pelúcia papel etc.
c)Escolha um dos adultos da casa para fazer isto com ele. i.e a mãe o pai ou ambos
d) Instrua o adulto e mais tarde a criança sobre as limitações da consulta on line.
2- Lugar tranquilo ou feliz
a)     A criança pode fazê-lo em papel ( desenho) ou em plasticina. Peça para partilhar consigo ( esta partilha quando on-line ajuda a estabelecer relação) Instale esse lugar situando sensação boa no corpo. SINAL STOP e respiração- Faça a respiração em conjunto com pai ou mãe ( ajuda na reconstruir de apego)3- Alvo. Nas criança trabalhamos aquilo que elas trazem para a consulta e não um alvo pré-definido mesmo que tenhamos conhecimento dele ( pesadelos ou sonhos ruins, o vírus mau, ou qualquer outra situação que pareça ser traumática). Se a criança não abordar nenhum alvo preocupe-se em instalar recursos positivos  e não em trabalhar sobre trauma. Se a criança disser que algo a incomoda então pode pedir para desenhar o que a incomoda ou incomodou. Levante o ICES adaptado à idade( crianças pequenas não terão cognição). Se disserem "TENHO MEDO" situe essa emoção no corpo e retire o SUDS através de escala ou através de sinal GRANDE PEQUENO MAIS OU MENOS ou  RUIM
b)      4- Proceda os movimentos bilaterais ou peça para ela fazer o abraço de borboleta ou caso escolha tapping,  o pai ou  mãe podem (depois de instruídos) fazer isso com eles. Esteja atenta(o) a sinais corporais e ab-reacções . Não faça cadeias muito longas ( o seu controlo on-line é menor!) Pode ir pedindo para a criança desenhar o que fôr surgindo...Não volte ao alvo se estiverem surgindo conteúdos mas certifique-se que pode continuar. PERGUNTE entre as séries. Se fôr necessário volte ao lugar feliz( tranquilo)
c)     5- Depois do SUDS zerar  pode pedir para a criança desenhar de novo. Muitas vezes esta será a CP ( Certifique-se) e se assim fôr,  associe a uma sensação boa no corpo ou a um talismã que a criança queira fazer em playdoh, por exemplo. Instale a Sensação boa e meça a potência da VOC. Quando estiver com VOC sete reforce essa sensação.
d)     6- Faça o escaneamento corporal ( nas crianças tudo é registado no corpo). Pode fazê-lo brincando ( usando um boneco- figura) para ver se todo o corpo está  tranquilo. Se houver perturbação,  volte a dessensibilizar essa mesma sensação até zerar.
e)     7- Feche a  sessão com um desenho com corações  que representem aquilo que a criança goste mais.
f)       SESSÃO INCOMPLETA. Diga à criança que o tempo está chegando ao fim, mas que vão tornar a ver-se para diluir todas as más sensações. Utilize um boneco  seu ( um  elefante, um urso gordo, um animal grande, mas dócil) para conter qualquer coisa negativa dizendo que ele ficará com aquilo pois é forte e gordo e pode guardar até à próxima sessão.
19 de mar de 2020
BIBLIOGRAFIA
Boadella, D. Transferência, Interferência e Ressonância, Cadernos de Biodinâmica 3, 1980. Summus
Reich, W. Análise do Caráter. M.Fontes, 1995.
Stolkiner, J. Abrindo-se aos Mistérios do Corpo, 2008, Ed. Alcance, P. Alegre.
Schwartz, R. Terapia dos Sistemas Familiares Internos, Rocca, 2004.
Rogers, C. Tornar-se Pessoa, M. fontes, 1961.
Teixeira, A. R. , A clínica da vergonha, 2020

Sobre o autor: Antonio Ricardo S. Teixeira é psicólogo clínico, CRP-01-6578, formado pela Universidade Sta. Úrsula-RJ em Dez. 1980. Orgonoterapeuta pelo CIO-Centro de Investigação Orgonômica Wilhelm Reich-RJ; Open-Orgonomy; Hipnoterapeuta Clássico (SOHIMERJ) e Ericksoniano. Terapeuta e Supervisor de EMDR- Eye Movement Desensitization and Reprocessing. Formado em Somatic Experiencing; Neuropsicólogo; Bodynamic (Pratictioner em formação). Atualmente reside e trabalha em Brasília-DF onde dirige a Somática Psicoterapia Corporal Integrativa www.somaticapsi.com.br . Email a.ricteixeira@somaticapsi.com.br . Onde atende individualmente e em grupos. Desenvolve estudos e promove palestras, workshops, seminários e cursos. Praticante de AIKIDO e Meditação Vipassana.
Membro de Associação Brasileira de EMDR;
Associação Brasileira do Trauma;
Open-Orgonomy