O
amor e suas inquietantes questões.
Autor:
A. Ricardo Teixeira Psicólogo
Amor. Que tema amplo! Que confusão e que grande solução para a vida! Será que
um dia o amor será capaz de evitar novas guerras?
O que dizer do amor através do tempo? Seria mais apropriado então falar de
amores. Mas aí, não é só dele que se trata senão dos objetos de amor. Do amor
entre dois.
Só sei que o melhor amor é aquele que se vive no presente. No agora. Do passado
só boas lembranças e aprendizados.
Mesmo temendo os egos dos amantes.
Sim! O maior perigo que o amor vive vem dos egos dos amantes. Seja amor a dois,
a três ou a todos. Quando o amor vai além de seus objetos.
Mas, o que seria do amor sem um bom ego para administrar sua intensidade
desmedida e sua tendência à expansão?
Não.
O amor não precisa de um ego fixo e controlador. Precisa que os amantes nele
confiem e não que dele desconfiem.
Tomado pelos estados de egos*, o ato de amar se torna egoísta. Quer tudo só
para si. Nesse caso ele, o amor, adoece e morre, pois, prefere morrer a servir
ao ego inflado por sua ganância, seu consumismo e pretensão. Isso faz o amor
rimar com dor.
Quando o ego é sofrido por nunca o ter conhecido, ou por não saber como absorvê-lo,
se constrange diante da grandeza serena do amor e tende a fugir. Foge da dor do
amor frustrado que nunca deixou que entrasse em todo o seu ser. Se refugia nas
representações que o definem. Faz prevalecer a tendência neurótica do ego sob a
forma de narcisismo. Opta pelo isolamento ou pela popularidade, onde segue as
tendências da moda, revisitadas em diversos modos de realizar desejos sem
profundidade. Torna-se um verdadeiro consumista de sexo fácil, superficial e
descartável. É impulsivo, imediatista e voraz na busca insaciável pelo preenchimento
do vazio e da pobreza de sentido que tem todas as vidas que não se empenham em
se superar. É mal humorado diante do que não lhe convém e permissivo como se
tudo que reflete uma superficial liberdade de ser fosse o ideal da vida.
Porém,
se confunde e se perde de si diante de uma proposta verdadeira de amor. Se aceitar a angústia que amar de verdade lhe
trará, poderá sobreviver aos temores, mas, terá que aceitar a transformação que
isso vai lhe causar.
O ego, diante do amor, assume várias formas. Umas tangíveis pela consciência.
Outras silenciosamente vão assumindo o controle da situação, não deixando que o
amor se desenvolva.
O
ego pode ser fugidio e covarde impedindo que o amor entre e se estabeleça tão
logo a paixão acabe. É nessa hora que o ego do outro é avaliado. Enquanto na
paixão o outro é encantador, no amor o que vai aparecer é a admiração. Através
da admiração o amor oculto vai se revelar e ter em que se apoiar. O ego só é
admirável quando pode abrir mão de uma parte do individualismo para recebê-lo.
Porém, irá enfraquecer o seu crescimento se agir com manipulação e
distanciamento. Só o ego humanizado pela humildade frente ao fracasso do ego
ideal é capaz de sustentar o amor entre dois seres igualmente vulneráveis e
influenciados pelo amor mútuo. Para isso é preciso aceitar que só perdendo se
pode ganhar. Aí vai poder dizer: preciso de você porque te amo. Preciso de você
para poder amar através de alguém que também sabe renunciar ao que não é para
poder realizar o que tem.
Se o ego é frágil, carente e submisso tende a se anular frente a dependência do
objeto de amor. Afinal, sua pobreza, que pode não ser material, não o deixa
desfrutar da riqueza do amor. A mensagem profunda da riqueza material não
é a soberba nem a posse. Mas, a capacidade de absorvê-la na sua forma mais
preciosa: O amor. O ego auto desvalorizado também desvaloriza o amor. Mas, o
ego auto inflado é uma armadilha.
Soberbo, solidário, inseguro, evitativo, empático, controlador, orgulhoso,
dominador, submisso, honesto, egocêntrico, cuidadoso, irado, apoiador, carente,
invejoso, ciumento, possessivo, competitivo, vítima, fantasioso, voraz, ávido,
angustiado, julgador, medíocre, acolhedor etc. muitas são as possibilidades que
os egos dos amantes podem assumir.
Quando o ego não mais disfarça suas tendências neuróticas ou virtuosas, honestamente
assume sua ignorância diante do amor, que se expressa por suas próprias
leis, se curva diante dele e o deixa crescer.
O ego precisa entender que sua presença se torna desnecessária quando o amor
encontra eco e sentidos nas trocas fluidas dos corpos. Ou na renúncia materna,
no cuidar dos filhos ou de alguém necessitado. Ou ainda na dedicação a uma
causa. Só a sua renúncia fará o amor preencher todas as células do corpo, uma
vez que este é, em essência, uma qualidade pulsátil.
Se
estiver dissociado do próprio corpo, o ego do amante tentará apreender o amor
através da mente o que restringe a percepção da dimensão transcendental do
amor. Trata-se de poder captar o amor através da experiência que está além das
palavras. Perceber que existe diferença entre o amor do ego e o amor do ser que
se mostra através da dimensão mais ampla e profunda da consciência captada como
uma percepção sensorial.
O nascimento e fortalecimento do ego se dá no campo da ameaça. Egos nascem e
crescem através das onipotentes batalhas infantis em defesa do desamparo, da
dor, da constatação da assimetria entre si mesmo e o outro a quem se ama
parcialmente enquanto dele se depende; a mãe. O ego em formação é imaturo e
alterna entre o amor e o ódio que estão na base da ambivalência da qual o
adulto aprende a reconhecer e a renunciar. Se sente inferior mas é pretensioso
ao forjar superioridade para mascarar sua inconsistência.
Quando o ego adulto reconhece sua assimetria frente ao ego do
outro, renuncia a si mesmo como quem se lança no abismo confiante de que será
amparado pelo amor. Esse reconhecimento é efeito do tempo e do trabalho
psíquico através de suas próprias experiências. É quando a história pessoal é
revisada e ressignificada. E deixada de lado para dar passagem ao novo. Exige
coragem e paciência consigo mesmo.
Aí então se forma um vínculo amoroso. Caracterizado pela confiança mútua na
comunicação sincera e despretensiosa. Sem medo de ser quem se é de verdade. Sem
querer competir por uma falsa superioridade. É o fortalecimento do vínculo
amoroso que fará vencer as tendências críticas geradas pelo julgador interno. O
vínculo amoroso sabe comunicar as contradições do ego sem permitir que a
vergonha pela vulnerabilidade humana seja objeto de ataque crítico.
Vínculo amoroso é uma forma de comunicação entre os seres que trocam entre si
os mais diversos assuntos. Desde o que vamos comer hoje até os anseios e
questões mais complexas da existência. Permite o dar e receber que reconhece a
importância da satisfação e do bem-estar do outro. O vínculo amoroso permite
que a troca seja justa. Apoia o crescimento mútuo. Se alegra com a alegria do
outro. É empático e solidário diante das diferenças individuais, do
sofrimento e dificuldades do outro.
O vínculo amoroso é uma via de mão dupla que dá acesso ao ir e vir do desejo,
na forma própria em que se apresenta em cada um.
É quando são desconstruídos os mitos e falácias sobre o amor ideal, que é uma
forma de tentar controlá-lo, que o vínculo amoroso permite que a capacidade
de amar seja nossa maior fonte de energia. O que mais pode o ego liberto de
suas demandas infantis querer do seu objeto de amor senão a possibilidade de
amá-lo?
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