quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A RIGIDEZ CARACTEROLÓGICA

 

A RIGIDEZ CARACTEROLÓGICA

A.Ricardo Teixeira

Várias formas de ser podem compor o que chamamos de caráter rígido. As bases da rigidez, geralmente, são formadas por sentimento de culpa e vergonha, necessidade de afirmação do poder pessoal e pouca abertura para de receber amor. São pessoas que, quando crianças, não foram validadas na sua força e poder pessoal. Ou viveram em ambientes de comparação pelos pais. “Sua irmã é muito estudiosa!”. “Sua prima tem um corpo perfeito!”. “Siga o exemplo do fulano, veja como ele é bem-sucedido!”. “Nossa! Você demorou tanto a entender isso, seu irmão aprende rápido!”. Etc. Sem falar em sofrer punições severas quando comete algum deslize. Também há a birra, que é um comportamento natural em crianças por volta dos dois anos e que costuma deixar os pais “loucos”. Isso é parte do que forma crenças do tipo: “Não posso errar” ou “Se eu não estiver sempre certo serei uma vergonha”. E ainda, “Preciso afirmar meu poder senão serei controlado e desrespeitado pelos outros”. Então, as atitudes do caráter rígido refletem controle excessivo e um profundo medo de errar ou de ser “mau”. Como se o seu valor estivesse em obter resultados, atingir metas e objetivos. Do contrário, serão desvalorizados e perderão a autoestima. Não sabem validar-se pelo próprio amor.

A rigidez caracterológica cria ideais de perfeição e grandeza que impermeabilizam o ser contra as manifestações espontâneas da vida viva.

Crianças precisam sentir que seu tempo de se desenvolver é singular, que suas dúvidas e fragilidades são naturais e que sua dignidade e senso de valor pessoal estão intrínsecos em seu ser, existindo independentemente do efeito que possam produzir no mundo. Pessoas rígidas só foram valorizadas pelo que alcançaram como competências. Nunca pelo que possa brotar espontaneamente como criatividade e amor. Aprenderam a se validar somente pelos papéis que representam e existem para tal. É a boa mãe que deprimiu quando os filhos cresceram e foram embora de casa. É o/a profissional que quando tira férias fica com a cabeça no trabalho ou se alcooliza a maior parte do tempo pois não sabe viver fora do seu papel.

Isso torna o caráter rígido fechado para receber. Um agradecimento ou um elogio pode ser racionalizados como uma manifestação de algo “não-eu”, do tipo: “agradeça a Deus, ao destino, à sorte, não a mim”. O problema aqui não é a natureza vazia do “ego” mas sim, a presença de um estado de ego que sofre por não estar aberto para receber, naturalmente.

Como não se movem a partir do amor, da criatividade e da espontaneidade, mas sim das metas e objetivos, tendem a se ver em constante retorno ao esvaziamento de si mesmos que os leva imediatamente a buscar novas metas e objetivos. Por isso Wilhelm Reich disse que as metas são traições à vida viva.

Traumas podem estar presentes ou não nas memórias conscientes ou inconscientes do caráter rígido. O reprocessamento destes traumas com terapias como EMDR ou Somatic Experiencing, por exemplo, pode trazer muito alívio e bem-estar, minimizando assim o efeito nefasto dos traumas. Mas, um passo a mais tem que ser dado na direção da abertura para viver a vida no presente, desprovido dos anseios que tanto movem pessoas rígidas.

O medo de não estar  no controle, os prende mais e mais a suas defesas caracterológicas. Vivem como se cumprir regras e alcançar objetivos fosse o viver em si. Vivem atrás de objetivos pois assim podem manter afastados da consciência a culpa, a vergonha e a inferioridade que sentem na falta de poder e a sensação de não ter valor e merecimento. Por isso é tão difícil ajudar a essas pessoas a amar sem controlar, a apreciar o viver em si, como algo dinâmico e criativo.

A rigidez caracterológica é uma tendência a ser altamente pragmática e avessa ao erro e ao fracasso. Encontramos pessoas assim em posições de liderança e domínio. Professores universitários, chefes de estado, militares, cientistas, profissionais de saúde e educação, ou do Direito, empresários, enfim, profissionais que visam resultados a curto, médio ou longo prazo. Quase todos!

Pais rígidos obrigam crianças pequenas a engolirem a salada que vai lhes fazer bem à saúde mesmo que a criança faça ânsia de vômito. E ainda ameaçam: “se vomitar, vai ter que engolir o vômito!”. Como estão baseados em crenças não em processos, não avaliam que podem estar gerando as bases para um transtorno alimentar. Se orgulham de sua opressão baseada em crenças e valores morais que não se importam com a singularidade da natureza humana já presente nas preferências de cada criança. Não acreditam em autorregulação. Temem que a espontaneidade forme filhos irresponsáveis e incompetentes. “A vida é dura e você tem que aprender pelo sofrimento”. Importam-se apenas em alcançar ideais de perfeição.

O caráter rígido, crê que suas crenças e valores são inquestionáveis e vivem justificando seus equívocos com racionalizações imprecisas que os afastam, cada vez mais, da espontaneidade. Quando é analisado, tende a ser mais flexível. Porém, nem sempre, se abre para a essência do ser.

Alguns conseguem se flexibilizar através de práticas religiosas, meditação ou autoanálise. Mesmo assim, sua tendência a dar será maior do a de receber, mantendo o desequilíbrio.  Pois elaboraram o medo da punição trocando-o por desejo de recompensa. Mas, em seu ser há uma incerteza para receber porque a crença diz que, “para receber devemos merecer”. Isso faz o Caráter rígido poder ser doador, principalmente para validar sua crença de que tem que ser uma “boa pessoa” para não visto como uma “má pessoa”. Logo, sua doação está a serviço de uma crença e não de generosidade genuína, ou do reconhecimento empático de que o outro tem necessidades que não consegue atender sem ajuda.

A diferença que se pode encontrar quando nos desfazemos desses equívocos é que entendemos a vida viva como um dom em si, que não precisa de metas e objetivos. Só precisa se realizar. A razão, a organização e a hierarquia de procedimentos são meios para que se possa desfrutar do viver em si. Mas, os rígidos os consideram como um fim em si mesmo. Como disse um Lama budista: “Se você tem problemas com regras, peça ajuda. Aqui, o que importa é transmitir sabedoria”. A sabedoria nos liberta da compulsão que os desavisados pensam em superar através da desobediência. Daí o conflito entre seguir as regras para obter resultados ou desobedecê-las para ter liberdade. Ocorre que, na desobediência não encontramos uma liberdade que gere uma conexão com a vida natural e espontânea. O que encontramos, num nível mais abaixo, é o medo de ser controlado. A reação ao controle não gera bons frutos mas sim, outras formas de rigidez que se manifesta como uma constante polarização.

Isso não quer dizer que não devemos valorizar a necessidade de otimizar métodos e procedimentos, seja para curar, educar ou evoluir em algum aspecto. O que está em questão é que o imaginário que acompanha esses procedimentos pode estar contaminado pela busca de reconhecimento (recompensa), ou medo de punição.

Recompensa e punição podem constituir uma polaridade que aprisiona a consciência, deixando-nos  impedidos de apreciar a vida fora do tempo. Isso nos mostra que mantemos nossas mentes presas ao tempo quando repetimos o passado projetando-o no futuro.  

“Quero alguém que me queira como eu nunca me senti querido”. Isso é idealizar um futuro que visa compensar o passado. Logo, é uma repetição e não uma real abertura para o novo.

O “coração”, termo aqui empregado como uma dimensão própria e profunda de sentimentos, está ao fundo de cada ação e pulsa na sua natureza. Se podemos relaxar no que já somos, sem metas, poderemos sentir amor e o pulsar da vida viva descompromissada dos objetivos. Não precisamos ser melhores do que somos mas sim, deixar-nos livre para ser o que já somos. Não é preciso ter méritos para reconhecer-se digno de existir, amar e ser espontâneo.

 Os procedimentos, métodos, técnicas de cura e ensino, vão sendo otimizados com a finalidade de se alcançar objetivos. Estes são uma forma de dar praticidade e objetividade à solução de problemas e criação de novas tecnologias. A finalidade é a criatividade! Na arte, o reconhecimento público deve ser vivido separadamente do processo criativo. O processo criativo brota como uma resposta à interação do vivo com o todo. 

A importância da disciplina reside na possibilidade de aprimorar o talento, a capacidade. Não é um fim em si mesmo. Muitos praticantes de meditação praticam com a intenção de alcançarem o buda em outra dimensão. Vejo nisso a concretização da fantasia infantil de um ego que busca manter a ilusão de que existe separadamente e pode ser reconhecido pelo outro. A razão da prática meditativa, no budismo, é realizar a natureza búdica (libertar-se) em si. O que pressupõe a cessação da percepção de dualidade. Manter o foco na disciplina e nas regras é apreciar o veículo mais do que a viagem. É um produto da rigidez caracterológica que cria suas barreiras para manter-nos na ilusão de que existimos separadamente. Aqui temos que fazer com que as duas condições se alternem. A de que existimos separadamente e de que podemos nos reconhecermos unidos ao todo.

Precisamos do senso de identidade para dirigirmos um automóvel na posição certa da via, respeitando a regras do trânsito e chegar ao destino em segurança. Mas, quando lá chegamos, não precisamos mais pensar nas manobras e cuidados. O senso de identidade motorista cessa sua importância. Passamos para outra atividade ou a poder ser sem nenhuma meta ou pretensão. É aí que podemos nos soltar no presente.  No agora e apreciar o momento até que novas exigências da vida nos obriguem a retomar sensos de identidade.

Médicos e psicólogos que trabalham usando protocolos e procedimentos costumam se queixar de muito cansaço, desenvolvendo síndrome de burnout, pois não são movidos pela espontaneidade, criatividade e genuíno interesse amoroso em seus pacientes. Disciplinaram-se para desenvolver seus talentos e capacidades porém, não aprenderam a arte de apreciar a vida viva em sua essência, que só se mostra na abertura para se estar no aqui e no agora, sem tempo. Para isso, é preciso aprender a se reconhecer fora do tempo. É como dançar totalmente entregue à música e aos movimentos. É como estar sem ter para onde ir.

Como disse o Dr. Jorge Stolkiner: “O que ocorre é que tudo o que sabemos é passado. Não é algo novo nesse momento. O passado é o morto. Não podemos fazer com que floresça o vivo através do morto...

Se estamos aplicando técnicas visando que a pessoa melhore estamos repetindo as mesmas condições em que o problema se formou.  Pois estamos preferindo como seremos no futuro, quando não estivermos deprimidos, quando não tivermos esse traço neurótico, quando não sejamos assim... estamos preferindo aquele teórico do futuro. Isso nega apreço e amor pelo que é, agora. Não amar e não apreciar a pessoa como ela é, repete as condições originais do problema. Como se pode sair daí”?

 

Na relação amorosa pressupõe que haja abertura, entrega e aceitação do outro e de si mesmo tal qual se é. A relação em si é uma condição favorável para que brotem novas possibilidades em ambos quando são capazes de se soltarem de ideias fixas e ideais de segurança ou superioridade narcísica que molda o caráter da família ideal. O que se busca aí é o controle do outro e de si mesmo para garantir a posse de uma condição que restringe em muito as possibilidades de renovação e criatividade. É só parar para escutar as queixas das pessoas casadas e encontraremos a rigidez caracterológica agindo contra o medo do desamparo, do abandono, da percepção de que se existe separadamente. Todo esse apego encobre a percepção de que casais só podem estar felizes se realmente evoluírem na direção do desenvolvimento da vida profunda.

O medo que assume várias formas, tais como: desamparo, abandono, solidão, ou o traumático em si, cujo sofrimento depende da maneira como o eu se define (crenças) por ter experimentado essas condições, leva ao controle que sustenta a superficialidade que gera repetição. A repetição obscurece a possibilidade de que a vida profunda se manifeste. A repetição visa recriar as condições originais em que nos apoiamos, através dos mecanismos de defesa que desenvolvemos desde a infância.

O casamento, nos moldes da rigidez caracterológica, age como uma camisa de força que limita os movimentos naturais que buscam o florescimento do vivo em dimensões mais profundas. Chega a ser uma desonestidade para consigo mesmo e com o outro exigir que nossas parcerias nos tratem da mesma forma, ou de forma oposta, que nossas mães e pais nos trataram.

A rigidez caracterológica nos impede de sair desse lugar de guardião da repetição para nos tornarmos autores de uma vida que desperta para novas possibilidades. Sustenta uma dependência que exige coragem para ser superada.

Jorge Stolkiner nos alerta para o quanto vivemos mais entre o passado e o futuro do que no presente. Mostra que projetamos no futuro, dando uma volta de 180º nos eventos ou condições do passado visando uma compensação. Se tivemos uma infância pobre, queremos ser ricos. Se fomos ofendidos, buscamos reparação da ofensa, ou vingança. Se faltou amor, buscamos alguém que nos ame como nunca fomos amados.

Idealizar o futuro como uma compensação do passado mostra que não se está aberto para o presente. Isso constitui-se como repetição! Usamos o presente como uma tela onde projetamos o passado e sua busca de compensação no futuro. Olhar para a tela em branco permite deixar brotar a criatividade, o amor e a espontaneidade. É assim que a vida viva vai poder se realizar.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O ódio não cura o ódio.

 

O ódio não cura o ódio

Pessoas irredutíveis, prisioneiras de suas crenças, sempre acham que estão certas, mesmo diante de outros argumentos ou evidências, pois supõem que suas boas intenções justificam seus atos destrutivos.

Não estudam nem analisam a realidade, os fatos, de qualquer natureza, porque não sabem a diferença entre querer investigar a realidade e moldá-la a suas idealizações e crenças. 

Se sentem superiores em razão de suas próprias opiniões e intenções. Aceitar outras ideias é o mesmo que se submeter ao que combatem pois estão certas de que se todos pensarem como eles, irão alcançar um paraíso na terra.

Receber ajuda ou, simplesmente escutar os que pensam diferente, significa que serão manipuladas ou controladas, excluindo assim tudo que não reflete suas crenças e valores que só fortalecem no senso de identidade grupal. 

Podem reagir com muito ódio pois assim evitam sentir a fragilidade, a falta de sentido e  o vazio de suas vidas. Vivem uma vida mediana e tediosa, facilmente seguem líderes que se inflam de um poder igualmente vazio. São facilmente iludíveis pois se excitam com discursos exaltados e raivosos que prometem o que não têm para dar. E, geralmente, não se reconhecem como formadores de seitas, pois lhes falta autocrítica e capacidade de se implicarem no que vivem. 

São tão dignos de compaixão quanto qualquer sofredor que se deixa levar pela ignorância. A compaixão nos serve também de proteção do espelhamento que o ódio irracional dos outros nos provoca. A compaixão não os redime nem alivia a responsabilidade por seus atos, quando são destrutivos. Mas, inverte a lógica da ignorância travestida de sabedoria que diz que ódio deve combater o ódio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O poder do luto

 

O poder do luto

Geralmente, a palavra luto não é bem-vinda pois representa perda, dor e tristeza. No entanto, o luto é um processo normal da vida uma vez que, constantemente, sofremos perdas reais ou simbólicas. Uma das perdas mais importantes é a da infância. Não somente como uma condição física, pois perdemos o corpo infantil, mas também e, principalmente, como perda das posições psíquicas da criança. O que obriga ao adulto a reconstituir sua autoimagem. Ao longo da vida, essa reconstituição se repete a cada novo ciclo. Infância, adolescência, juventude, maturidade, adoecimento, velhice e morte requerem constantes reformulações do senso de identidade. Incluindo a própria finitude. O que se dá graças ao trabalho de luto. Concluir o luto da infância e das fases seguintes abre portas para a renovação de si. É uma verdadeira faxina em favor do novo. Ser capaz de perder é o que nos permite ganhar. Na falta deste trabalho de luto, ou lutos, nos tornamos adultos frágeis, frustrados, incapazes de nos reconhecermos como seres com vida própria, criativos e estruturados pelo poder de ser único.

Adultos que ainda não completaram o trabalho de luto da mente infantil, estão confusos entre a exigência de cumprir seus deveres e a incansável busca de realizações baseadas nas fantasias da infância. Sentem orgulho de uma superioridade vazia, são pretenciosos quando opinam sobre o que não entendem, desdenham dos especialistas de verdade, são submissos a líderes políticos e religiosos, creem em certezas mal fundamentadas, tendem ao fanatismo e a uma religiosidade imatura pois veem Deus como uma figura paterna que lhes oferece proteção em troca de bom comportamento. Uma vez que duvidam de si mesmos pois se baseiam numa autoestima precária, acreditam em promessas de salvação e na possibilidade de viver num mundo ideal. Se vitimizam quando sofrem perdas reais ou simbólicas pois não fizeram o trabalho interior que os levaria a serem mais seguros de si, apesar das incertezas da condição humana. Alimentam falsas esperanças em detrimento do que a experiência lhes mostra. Poder perder e se renovar nos torna aptos a crescer contando mais consigo mesmo do que com as promessas dos falsos profetas e dos políticos de má fé.

O poder do ódio

 

O poder do ódio

Ódio é uma forte reação emocional que brota diante do amor frustrado. Sente-se ódio ao lembrar-se dos abusos sofridos na infância por adultos que nos deveriam amar e proteger. O ódio age como uma defesa contra a dor diante da perda de algo importante, alguém ou um ideal pelo qual nos apaixonamos. Odiar é parte importante do processo de luto. Odiamos quando percebemos que nos deixamos enganar pelo vendedor de sonhos impossíveis. Tal vendedor pode ser um líder político ou religioso, um professor, um guru, uma mulher ou homem que nos promete apaixonadas realizações de desejos que nos livram da responsabilidade de promover nossa própria felicidade. Pelo contrário, esses vendedores de sonhos tiram de nós o que não queremos dar: nossas próprias ilusões! O mais difícil do processo de elaboração das perdas é aceitar o autoengano por trás do desejo frustrado. Depositamos no outro toda fé e esperança enganosa e por ela lutamos até a morte.

Odiaremos enquanto não aceitarmos que somos os autores da falácia. Sem essa autocrítica, ninguém supera a dor e o medo da repetição. Portanto, se a ilusão ainda não se desfez, aceite seu ódio. Mas não destrua pessoas ou objetos materiais. Tais pessoas ou coisas foram agentes do fabricante de ilusões que mora dentro de cada um de nós. É esse fabricante que nos coloca na posição de dependência, de discípulo, de seguidor, de submissão a um salvador qualquer. Muitos se dizem apoiadores de uma igreja, partido político ou líder, mas não enxergam que estão se apoiando neles quando não conseguem se sustentar em si próprios. Neste caos, não odeie o mensageiro. Não procure culpados da sua imaturidade e negativa em enxergar a realidade. Pelo contrário, busque em si mesmo as causas da sua dor.

Odeie até compreender que o que precisa ser destruído é a sua tendência a crer que a tal da esperança direcionada para o outro está corroendo a sua capacidade de transformar sua vida, dando-lhe sentido e dignidade. Odeie até poder reconhecer suas tendências infantis a crer em falsos profetas que prometem um paraíso que irá poupar-lhe do trabalho de se tornar você mesmo e realizar seus talentos e capacidades.

Seu ódio vai deixar de se manifestar como depressão quando você aceitar que o criador de ilusões que mora em você está lhe culpando e atacando pelo fracasso de suas idealizações.

Enfraquecidos pela esperança depositada no outro, nos tornamos cegos para nós mesmos, negando aquilo que verdadeiramente pode nos trazer paz, amor e realizações significativas. Seu ódio vai passar quando você aceitar o amor por si mesmo e pelas causas que cultivam a vida viva em vez de se apoiar na crença em um mundo ideal. O processo civilizatório é lento.

Seu ódio vai durar enquanto você continuar acreditando que os inimigos estão fora de você e devem ser combatidos. Não nos tornamos melhores por aquilo que criticamos, condenamos e afastamos. Melhoramos quando lutamos por aquilo que agregamos enquanto valor.

Seu ódio vai durar enquanto você não aprender a separar emoção de ação. Emoções são dinâmicas. Duram um certo tempo e depois acabam. Ações têm consequências que precisam ser avaliadas. A sabedoria vem quando deixamos de transformar qualquer paixão frustrada em ação destrutiva. As emoções não podem ser evitadas, mas podem ser tratadas, cuidadas, até amadas. Já as ações podem ter consequências irreparáveis.

O ódio tem o poder de destruir, mas, se formos inteligentes e cuidadosos, o tomaremos como uma fonte de energia para enfrentar a verdadeira origem do sofrimento que vem das ilusões e da esperança  de viver num mundo ideal, que quer nos poupar de sermos responsáveis pelo nosso crescimento e superação.