quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O poder do ódio

 

O poder do ódio

Ódio é uma forte reação emocional que brota diante do amor frustrado. Sente-se ódio ao lembrar-se dos abusos sofridos na infância por adultos que nos deveriam amar e proteger. O ódio age como uma defesa contra a dor diante da perda de algo importante, alguém ou um ideal pelo qual nos apaixonamos. Odiar é parte importante do processo de luto. Odiamos quando percebemos que nos deixamos enganar pelo vendedor de sonhos impossíveis. Tal vendedor pode ser um líder político ou religioso, um professor, um guru, uma mulher ou homem que nos promete apaixonadas realizações de desejos que nos livram da responsabilidade de promover nossa própria felicidade. Pelo contrário, esses vendedores de sonhos tiram de nós o que não queremos dar: nossas próprias ilusões! O mais difícil do processo de elaboração das perdas é aceitar o autoengano por trás do desejo frustrado. Depositamos no outro toda fé e esperança enganosa e por ela lutamos até a morte.

Odiaremos enquanto não aceitarmos que somos os autores da falácia. Sem essa autocrítica, ninguém supera a dor e o medo da repetição. Portanto, se a ilusão ainda não se desfez, aceite seu ódio. Mas não destrua pessoas ou objetos materiais. Tais pessoas ou coisas foram agentes do fabricante de ilusões que mora dentro de cada um de nós. É esse fabricante que nos coloca na posição de dependência, de discípulo, de seguidor, de submissão a um salvador qualquer. Muitos se dizem apoiadores de uma igreja, partido político ou líder, mas não enxergam que estão se apoiando neles quando não conseguem se sustentar em si próprios. Neste caos, não odeie o mensageiro. Não procure culpados da sua imaturidade e negativa em enxergar a realidade. Pelo contrário, busque em si mesmo as causas da sua dor.

Odeie até compreender que o que precisa ser destruído é a sua tendência a crer que a tal da esperança direcionada para o outro está corroendo a sua capacidade de transformar sua vida, dando-lhe sentido e dignidade. Odeie até poder reconhecer suas tendências infantis a crer em falsos profetas que prometem um paraíso que irá poupar-lhe do trabalho de se tornar você mesmo e realizar seus talentos e capacidades.

Seu ódio vai deixar de se manifestar como depressão quando você aceitar que o criador de ilusões que mora em você está lhe culpando e atacando pelo fracasso de suas idealizações.

Enfraquecidos pela esperança depositada no outro, nos tornamos cegos para nós mesmos, negando aquilo que verdadeiramente pode nos trazer paz, amor e realizações significativas. Seu ódio vai passar quando você aceitar o amor por si mesmo e pelas causas que cultivam a vida viva em vez de se apoiar na crença em um mundo ideal. O processo civilizatório é lento.

Seu ódio vai durar enquanto você continuar acreditando que os inimigos estão fora de você e devem ser combatidos. Não nos tornamos melhores por aquilo que criticamos, condenamos e afastamos. Melhoramos quando lutamos por aquilo que agregamos enquanto valor.

Seu ódio vai durar enquanto você não aprender a separar emoção de ação. Emoções são dinâmicas. Duram um certo tempo e depois acabam. Ações têm consequências que precisam ser avaliadas. A sabedoria vem quando deixamos de transformar qualquer paixão frustrada em ação destrutiva. As emoções não podem ser evitadas, mas podem ser tratadas, cuidadas, até amadas. Já as ações podem ter consequências irreparáveis.

O ódio tem o poder de destruir, mas, se formos inteligentes e cuidadosos, o tomaremos como uma fonte de energia para enfrentar a verdadeira origem do sofrimento que vem das ilusões e da esperança  de viver num mundo ideal, que quer nos poupar de sermos responsáveis pelo nosso crescimento e superação.

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