quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O poder do luto

 

O poder do luto

Geralmente, a palavra luto não é bem-vinda pois representa perda, dor e tristeza. No entanto, o luto é um processo normal da vida uma vez que, constantemente, sofremos perdas reais ou simbólicas. Uma das perdas mais importantes é a da infância. Não somente como uma condição física, pois perdemos o corpo infantil, mas também e, principalmente, como perda das posições psíquicas da criança. O que obriga ao adulto a reconstituir sua autoimagem. Ao longo da vida, essa reconstituição se repete a cada novo ciclo. Infância, adolescência, juventude, maturidade, adoecimento, velhice e morte requerem constantes reformulações do senso de identidade. Incluindo a própria finitude. O que se dá graças ao trabalho de luto. Concluir o luto da infância e das fases seguintes abre portas para a renovação de si. É uma verdadeira faxina em favor do novo. Ser capaz de perder é o que nos permite ganhar. Na falta deste trabalho de luto, ou lutos, nos tornamos adultos frágeis, frustrados, incapazes de nos reconhecermos como seres com vida própria, criativos e estruturados pelo poder de ser único.

Adultos que ainda não completaram o trabalho de luto da mente infantil, estão confusos entre a exigência de cumprir seus deveres e a incansável busca de realizações baseadas nas fantasias da infância. Sentem orgulho de uma superioridade vazia, são pretenciosos quando opinam sobre o que não entendem, desdenham dos especialistas de verdade, são submissos a líderes políticos e religiosos, creem em certezas mal fundamentadas, tendem ao fanatismo e a uma religiosidade imatura pois veem Deus como uma figura paterna que lhes oferece proteção em troca de bom comportamento. Uma vez que duvidam de si mesmos pois se baseiam numa autoestima precária, acreditam em promessas de salvação e na possibilidade de viver num mundo ideal. Se vitimizam quando sofrem perdas reais ou simbólicas pois não fizeram o trabalho interior que os levaria a serem mais seguros de si, apesar das incertezas da condição humana. Alimentam falsas esperanças em detrimento do que a experiência lhes mostra. Poder perder e se renovar nos torna aptos a crescer contando mais consigo mesmo do que com as promessas dos falsos profetas e dos políticos de má fé.

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