O
poder do luto
Geralmente, a palavra luto não é
bem-vinda pois representa perda, dor e tristeza. No entanto, o luto é um
processo normal da vida uma vez que, constantemente, sofremos perdas reais ou
simbólicas. Uma das perdas mais importantes é a da infância. Não somente como
uma condição física, pois perdemos o corpo infantil, mas também e, principalmente,
como perda das posições psíquicas da criança. O que obriga ao adulto a
reconstituir sua autoimagem. Ao longo da vida, essa reconstituição se repete a
cada novo ciclo. Infância, adolescência, juventude, maturidade, adoecimento,
velhice e morte requerem constantes reformulações do senso de identidade.
Incluindo a própria finitude. O que se dá graças ao trabalho de luto. Concluir
o luto da infância e das fases seguintes abre portas para a renovação de si. É
uma verdadeira faxina em favor do novo. Ser capaz de perder é o que nos permite
ganhar. Na falta deste trabalho de luto, ou lutos, nos tornamos adultos
frágeis, frustrados, incapazes de nos reconhecermos como seres com vida
própria, criativos e estruturados pelo poder de ser único.
Adultos que ainda não completaram
o trabalho de luto da mente infantil, estão confusos entre a exigência de
cumprir seus deveres e a incansável busca de realizações baseadas nas fantasias
da infância. Sentem orgulho de uma superioridade vazia, são pretenciosos quando
opinam sobre o que não entendem, desdenham dos especialistas de verdade, são
submissos a líderes políticos e religiosos, creem em certezas mal
fundamentadas, tendem ao fanatismo e a uma religiosidade imatura pois veem Deus
como uma figura paterna que lhes oferece proteção em troca de bom
comportamento. Uma vez que duvidam de si mesmos pois se baseiam numa autoestima
precária, acreditam em promessas de salvação e na possibilidade de viver num
mundo ideal. Se vitimizam quando sofrem perdas reais ou simbólicas pois não
fizeram o trabalho interior que os levaria a serem mais seguros de si, apesar
das incertezas da condição humana. Alimentam falsas esperanças em detrimento do
que a experiência lhes mostra. Poder perder e se renovar nos torna aptos a
crescer contando mais consigo mesmo do que com as promessas dos falsos profetas
e dos políticos de má fé.
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