Reflexões
sobre EMDR online
Autor: A.
Ricardo Teixeira Psicólogo Clínico CRP01-6578 (Ex-CRP05-8613) Supervisor de
EMDR.
Introdução
As psicoterapias em geral seguem as tendências atuais de que
tudo deve ser consumido rapidamente. EMDR desperta essa tendência. Talvez você
já tenha contado o número de páginas deste texto e está decidindo se vai lê-lo todo
ou apenas algumas partes. Eu também faço isso, muitas vezes. Porém, quando o
assunto diz respeito à minha prática clínica, sou mais lento. Procuro absorver cuidadosamente
as palavras até alcançar seu sentido mais profundo. Se você quiser seguir esta
sugestão, espero que encontre o mesmo prazer que tive em escrevê-lo. Ao final
você pode encontrar meu email e me enviar suas observações, críticas ou
dúvidas.
Venho praticando EMDR desde 1999 coincidindo com minha
mudança para Brasília onde vivo desde então. Aprendendo com a experiência e
ajuda de colegas, leituras e listas de discussão. Quando comecei não tínhamos
toda a estrutura que temos hoje composta por treinadores, supervisores, cursos complementares
sobre dissociação, TEPT, Trauma Complexo, Dissociação, Ego States Therapy, etc. Naquela época tínhamos uma treinadora que
vinha duas vezes por ano, os livros em inglês e espanhol e uma lista de
discussão por email em inglês. Me apoiava também no que dava sustentação à minha clínica
analítica corporal reichiana, a saber: o conhecimento do corpo e as funções dos
bloqueios emocionais (couraça caracterológica) e análise do caráter. A
compreensão da importância da relação terapêutica desde os seus pilares
humanistas e psicanalíticos com ênfase no inconsciente, na transferência,
contratransferência, resistência, contrarresistência, apoio e confrontação,
dificultando ou facilitando a elaboração dos conflitos e traumas emergentes. No
que tange à relação terapêutica, a importância de um encontro vivo, guiado pela
empatia, que na linguagem reichiana seria a percepção de campo, em que a
sensação do terapeuta é levada em consideração na avaliação e compreensão
daquilo que se comunica. Temos também a leitura corporal, a observação da
respiração, dos gestos espontâneos, o olhar enquanto se fala, a postura, as
mudanças de coloração da pele, o caminhar, o chegar e o partir e tudo o mais
que se pode perceber quando se abre o olhar com a mente de principiante para
além da fala.
Quando o EMDR entrou na minha prática pude confrontar-me com
questões que antes não me tinham sido postas. A natureza da memória traumática
e a possibilidade de elaborá-la numa dimensão mais ampla que se traduz no que
chamamos de Dessensibilização e Reprocessamento. Eu já conhecia o poder dos
movimentos oculares através da prática dos “actings” que são uma sequência de
movimentos, a começar pelos olhos, desenvolvida pela Vegetoterapia
Caractero-Analítica criada por Wilhelm Reich e sistematizada por Federico
Navarro que visa o desbloqueio da energia no corpo e o estabelecimento do fluxo
e da pulsação energética como base referencial para a saúde física e psíquica.
No entanto, integrar o protocolo básico do EMDR potencializou a eficácia dos
actings pois vi que o EMDR seria mais uma estratégia de desbloqueio. EMDR
também trouxe a possibilidade de oferecer uma nova modalidade de psicoterapia
breve. Isso me exigiu um reposicionamento frente aos aprendizados anteriores
sem desprezar seu valor e importância
quando o objetivo da terapia era alcançar os resultados propostos pelo modelo
reichiano. EMDR entrou aí
como uma ferramenta complementar com ótimos resultados. Até então, mais uma técnica!
Quando Francine Shapiro, tomada pelo entusiasmo vindo do
sucesso do EMDR com outros transtornos além do TEPT, naturalmente requisitou
para o EMDR o status de abordagem terapêutica, permitindo que os terapeutas se
intitulassem terapeutas de EMDR, mantive minha orientação teórica e técnica e
passei a ajudar colegas que me pediam supervisão a situar e diferenciar o EMDR
frente às questões de cada cliente. Uma coisa importante que aprendi com o Dr.
Reich é que a técnica deve ser adaptada ao paciente e não o contrário. Isso
implica em desenvolver domínio sobre o manejo da transferência e o uso de
técnicas que podem produzir efeitos desejáveis e adversos tais como: ab-reações
emocionais, as reações dissociativas de congelamento e as defesas vindas do
padrão lutar ou fugir. Além disso, apurar o tino clínico para diferenciar o
grau de tolerância que cada paciente apresenta ao movimento da energia no seu
sistema corpo-mente. Vi também que muitos terapeutas estavam aplicando EMDR de
forma mecânica, sem se preocupar com a importância da relação terapêutica e tratando
o método como uma panaceia.
Uma nova necessidade de reposicionamento se mostrou evidente quando
os avanços da internet trouxeram os aplicativos de conversas ao vivo tipo
Skype. Alguns clientes que se mudaram de Brasília e queriam continuar suas terapias
comigo me solicitavam que continuasse a atendê-los(las). Em princípio, relutei
um pouco em aceitar. Como poderei dar continuidade ao que penso ser a melhor maneira, para mim, de
atender sem perder a qualidade? Responderei mais adiante.
No momento em que escrevo este texto, estamos em 21 de março
de 2020 e a pandemia causada pelo covid-19 ainda não chegou ao seu pico. Ontem
a previsão feita pelo ministro da saúde foi de que chegaríamos ao auge da crise
em abril. Os Conselhos de Psicologia liberaram psicólogos a atender através dos
aplicativos online. A orientação é que se evite sair de casa. Alguns colegas de
EMDR pediram ajuda sobre como fazer atendimento online. Vi algumas orientações
importantes e resolvi compartilhar através deste texto minha experiência.
A colega e treinadora de EMDR Rita Silva enviou um breve
texto que dá orientações práticas e agregou algumas outras oferecidas por um
psicólogo de Portugal sobre como atender crianças online com EMDR. Acredito que
são recomendações válidas e que devem ser seguidas. Estão inseridas abaixo.
Porém, trago aqui outros aspectos da clínica que considero
importantes serem levados em consideração como uma ampliação ou aquisição de
recursos que podem dar mais segurança ao terapeuta e ao paciente.
Relação terapêutica
Minha primeira escola de escuta terapêutica foi no ano de
1978, ainda estudante, no estágio em que participei oferecido pelo psicólogo
José Luis Belas, no Hospital Estadual Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói-RJ.
Belas é um psicólogo rogeriano e com ele aprendi a escutar pacientes através da
Empatia, Congruência e Aceitação Incondicional. O hospital oferecia atendimento
ambulatorial a pacientes não internados. Minha segunda escola foi psicanalítica
na qual estudei o emprego da atenção flutuante e o manejo da transferência conduzindo
à elaboração. A terceira foi reichiana. Reich, em sua perspicácia descobriu a
importância de se sentir no corpo as sensações que emergem do contato com cada
paciente. Ele chamou isso de sensação de órgão e considerava a base para um
método de investigação da vida viva. À forma de entender as sensações chamou de
pensamento funcional. Não vou me deter nestes aspectos pois tomaria muito tempo
e nos distanciaria da reflexão proposta. Acrescento apenas que toda esta
compreensão foi bastante aprofundada com a ajuda dos estudos teóricos e
técnicos de Milton Erickson, Peter Levine e, a partir de 1994, dos Seminários
Técnicos do Dr. Jorge Stolkiner.
Até então, os elementos que funcionam como base de
sustentação e impulsionamento do processo terapêutico são baseados na
combinação destes fundamentos da relação terapêutica com as técnicas de
desbloqueio energético. Com a entrada do EMDR no meu campo de ação, entraram o
protocolo básico e os Estímulos Bilaterais aos quais sou muito grato a Francine
Shapiro.
Os três tipos de escuta integrados; empatia, congruência e
aceitação incondicional, a atenção flutuante e a percepção de campo através da
sensação ganharam então mais um aliado: o protocolo básico e a E.B..
O manejo da transferência
Ainda na década de
1980 tive contato com um texto de Davis Boadella chamado “Transferência,
Ressonância e Interferência”. Se você chegou até aqui nesta leitura, certamente
seu interesse vai aumentar quando ler o que tenho a dizer sobre este texto e
vai querer lê-lo também. Veja como encontrá-lo nas referências bibliográficas
abaixo.
Boadella analisa o
fenômeno da transferência e da contra transferência a partir da concepção de
Reich que define a personalidade em três camadas: Máscara, segunda camada e
núcleo. Sendo máscara a parte mais superficial da pessoa, segunda camada é o
recalcado, aquilo que Jung chamou de sombra e onde podemos incluir o trauma e
tudo o mais que a máscara rejeita. E o núcleo é o cerne biológico, de ondem
partem os impulsos mais genuínos.
(No sistema criado por Richard Schwartz, Internal Family
Systems, o núcleo é o Self com seus atributos a que chama de 8Cs. Calma,
Conectividade, Criatividade, Confiança, Coragem, Clareza, Curiosidade e
Compaixão.)
Este texto deu mais sentido e orientação à minha prática e
confiança na direção proposta pela visão reichiana. Certamente que ao longo dos
anos, muitas terapias, meditação Vipassana, análises e estudos, muitos
elementos foram acrescentados aos eixos referenciais. Como este texto não é uma
auto biografia, o que segue a partir daqui é o que mais interessa aos
terapeutas de EMDR que já atendem ou querem começar a atender online. Tudo que
apresentei até aqui foi minha base teórica e a direção do tratamento mesmo com
EMDR, para além do Suds 0 e do VOC 7.
EMDR enquanto movimento
Enquanto EMDR era somente uma técnica para trauma, podendo
ser empregada em situações de catástrofe tanto quanto em lembranças traumáticas
antigas, não precisávamos nos preocupar com o Self. Esta seria uma questão adotada
pela abordagem que fundamentasse o terapeuta. Como no meu caso, a abordagem
reichiana. EMDR entrou no meu contexto teórico e procurei ajustá-lo ao que
tento oferecer aos clientes como uma forma de direcionar meus procedimentos. Vários
outros colegas, de muitas abordagens diferentes, fizeram o mesmo. Ou o emprego
no atendimento a situações de crise.
Mas, se o EMDR pretende ser uma abordagem, precisa definir
uma teoria do Self e a ele direcionar seus protocolos e procedimentos. Caso contrário,
seu conceito de cura será limitado ao rápido desaparecimento dos sintomas. Tipo
“fast-therapy” sem nenhum compromisso com a realidade emocional e psíquica mais
profunda.
Certamente que para situações de crise, EMDR exerce muito bem
o seu papel. Porém, a falta de uma possibilidade de analisar as questões num
nível mais profundo tende a trazer à tona aspectos destrutivos das
personalidades que não foram sequer tocados. Ocorre então o que ocorreu em
muitas escolas de terapia. Inveja, competição, disputas de poder sustentados
por uma postura arrogante e orgulhosa, vinda da eficácia da técnica e insegura
devido à falta de prevalência do Self. Aí vemos terapeutas que se propõem a
tratar trauma aprofundando suas divisões internas no contexto relacional do
movimento. Como disse uma terapeuta no início da criação do movimento EMDR: “EMDR
desperta a cobiça dos terapeutas”. De que forma será que isso afeta os
clientes?
Reich analisou profundamente o potencial destrutivo do humano
num texto chamado “praga emocional” que é encontrado num capítulo de um dos
seus livros mais importantes; Análise do Caráter. É perfeitamente compreensível
que, à partir daí, nenhuma teoria sobre o psiquismo fique restrita a explicar o
comportamento analisando apenas o cérebro sem contudo diminuir a importância da
neurociência.
EMDR em ação
A principal função da Estimulação Bilateral (EB) é aprofundar
a capacidade de contato permitindo que as cinco partes da
memória se integrem e se transformem na direção do self. São elas: Imagem,
Significado, Emoção, Sensação Corporal e Comportamentos.
O protocolo básico ativa estes elementos e a EB impulsiona as
tendências autorreguladoras através do PAI (Processamento Adaptativo de
Informação), reprocessando aquelas memórias. Como afirma o psicólogo e
supervisor também pioneiro na difusão do EMDR no Brasil, José Guilherme Duque
de Moura, “o PAI é a expressão neurobiológica do SELF”. O processo culmina com a revitalização do sistema
corpo-mente-energia. O contato profundo é também impulsionado pela ressonância
entre terapeuta e paciente. Conforme disse Boadella, a ressonância pode sofrer
interferência da transferência e contratransferência.
A escuta das sensações do(a) terapeuta e do(a) paciente é
movida pela intenção terapêutica, que é o motor que aponta na direção do núcleo
do paciente. A fase do Reprocessamento (3 a 7), conecta o paciente à sua
segunda camada onde está toda confusão mental e emocional causada pelo trauma.
É de grande importância que o terapeuta esteja protegidamente sensível e claramente
motivado a propiciar que o/a paciente atravesse seus conteúdos traumáticos com
a intenção de alcançar o self e não retornar à máscara. Se o terapeuta saiu
demasiadamente cansado da sessão é porque não conseguiu alcançar este objetivo.
Pode ter paralisado na contratransferência ou se desorientado.
Três posicionamentos diante da relação terapêutica:
1-
Omisso
2-
Confuso
3-
Funcional
No primeiro caso, omite-se a importância da relação
terapêutica e a confiança obtida vem apenas da autoridade do terapeuta ou do
método, que pode estar sendo empregado de forma mecânica. Veja no texto de
Boadella os tipos de defesas que movem as interferências. Este tipo tende a ser
um relacionamento de máscara para máscara no qual prevalece a impossibilidade
de se falar da relação. O cliente não é incentivado a falar como se sente em
relação ao terapeuta, tendendo a fazer um reprocessamento superficial. Obtém
algum alívio dos sintomas e termina a terapia tão preso à sua máscara quanto
chegou. Os clientes não mergulham nas águas obscuras que os terapeutas não
suportam ter que nadar!
No segundo caso, a relação terapeuta paciente tende a ser
marcada pela confusão. O cliente não desenvolve suficiente confiança para ser
ele mesmo e pode bloquear o reprocessamento por entrar em resistência
transferencial. Geralmente esta resistência corresponde a alguma
contratransferência encoberta. O paciente pode adotar uma posição passiva,
confrontativa ou dissimulada. Geralmente os passivos são tipos orais
dependentes que querem e temem perder a proteção do terapeuta/pai ou mãe a quem
demandam amor, segurança e aprovação. Só pensam em dar o que se espera deles em
troca do amor transferencial. O trauma vem da negligência de suas necessidades
emocionais.
Os confrontativos são obsessivos, masoquistas e fálicos
narcisistas que são classificados como rígidos. São traumatizados pela rejeição
e julgamento excessivo, crítica e vergonha. Os dissimulados são os que estão na
posição histérica. Seduzindo e evitando a verdade. A sexualidade é marcada pelo
abuso e não aceitação. A transferência é marcada por fantasias e desejos
incestuosos. Podem ser também passivo-agressivos, agindo pelas costas de forma
perversa. Estes traços de caráter brevemente descritos se engancham com as
mesmas características em terapeutas superficialmente ou não analisados e podem
fazer com que o reprocessamento seja parcial e igualmente mantenedor da
superficialidade caracterológica.
No posicionamento funcional, o terapeuta está aberto a
acolher a transferência, reconhecer a contratransferência e apto a despertar
mais confiança e coragem para que a profundidade e efeito do reprocessamento alcance o self em
vez de causar um retorno à máscara. Se o terapeuta estiver orientado para o
desenvolvimento do self do paciente a Estimulação Bilateral incrementa a
exploração do potencial de crescimento latente no espaço relacional. A abertura
do self pode ser compreendida como a abertura do coração, ou seja, as
qualidades a que se refere Richard Schwartz (IFS) tem relação com sentir-se
suficientemente seguro para poder ser mais amoroso e positivo. Para além do
padrão lutar-fugir-congelar. Padrão este que condiciona as relações de
trabalho, e as disputas de poder.
Atendimento online
A minha primeira reação negativa ao atendimento online
deveu-se ao fato de que encontrando pacientes através da tela do computador ou
celular poderia estar acirrando a percepção de distanciamento levando o
relacionamento a um patamar de máscara para máscara. Isso poderia ter implicações severas na
qualidade do reprocessamento pois, a percepção de distanciamento pode acirrar a
percepção do desamparo que pode levar à manutenção de defesas caracterológicas
ou despertar muita ansiedade chegando ao pânico. A confiança que uma pessoa tem
para mergulhar no reprocessamento de seus traumas é diretamente proporcional ao
grau de confiança que tem no terapeuta. E isso vale até que o eixo da confiança
seja transferido para si mesmo. Deste ponto em diante, é o self quem cuida. E o
terapeuta apenas o reflete.
Portanto, o atendimento online pode propiciar uma percepção
de distanciamento e abandono que poderá se refletir na transferência provocando
fuga de contato ou da terapia. Um bom reprocessamento, que pode durar algumas
sessões, é aquele que culmina na revitalização do sistema corpo-mente-energia e
é percebido por ambos.
No entanto, a possibilidade de se obter respostas
terapêuticas profundas e eficazes precisava ser reconsiderada a partir do
contexto online.
Estas questões devem ser avaliadas em três condições:
pacientes que já foram atendidos no consultório e estão fora da cidade; que
estão sendo atendidos pela primeira vez, ou seja nunca pisaram num consultório.
Vão ser atendidos online por causa de uma condição específica, como na que
estamos atualmente (COVID-19) e depois vão dar continuidade no consultório, ou
não vão passar de algumas sessões online. Ou ainda, darão continuidade em
sessões presenciais quando a crise passar.
Questões a investigar
O fato do/a paciente sair de sua casa ou do trabalho para ir
ao consultório implica numa ativação do processo. No atendimento online imaginariamente,
o/a terapeuta ‘leva’ seu consultório à casa ou local de trabalho do paciente.
Como será que isso estará sendo percebido?
O fato de não podermos ver, sentir e estar no calor do
contato físico, pode ser um fator que influencia no reprocessamento? Como
acirrar a percepção de presença e intenção terapêutica?
Confiar apenas na aplicação dos EBs é suficiente para
alcançar a resposta de reprocessamento mais profunda?
O manejo da vergonha
A vergonha tem o enorme poder de se esconder. Está sempre presente
de forma oculta ou manifesta. Fique atento(a) aos sinais de que a/o paciente
pode estar se inibindo por vergonha. Na dúvida leia meu texto sobre “A clínica
da vergonha” que está na bibliografia abaixo. E também as aulas gratuitas que
disponibilizei sobre o tema da vergonha.
A vergonha oculta pode interferir de maneira decisiva no
atendimento online, não dando tempo para agir.
Sugestões de recursos adicionais
Perguntar ao paciente como é para ele/a ser atendido desta
forma. Deixar que fale um pouco sobre suas sensações e sentimentos antes de
avançar no reprocessamento. Aceitar as impressões e opiniões mesmo que
negativas. Se o cliente se mostra confortável não avance sem antes expressar
seu verdadeiro sentimento sobre esta nova condição. Por exemplo: “Que bom que
você está confortável. Eu ainda estou me adaptando. É um pouco estranho, mesmo
sabendo da importância de termos esta oportunidade de trabalharmos suas
questões”.
É bom sempre distinguir o sentimento da interpretação sobre o
fato. Isso remete a um encontro regido pelo amor à verdade e não apenas pelo
esforço em manter as aparências. O vínculo terapêutico só é sustentado pelo
amor à verdade.
Caso o paciente esteja desconfortável incentive-o/a falar sobre isso. Avalie a necessidade de
empregar um pouco de EBs na percepção ruim até que esta se dissipe.
Use respiração profunda, de 2 a 5 min, antes de começar a
reprocessar.
Os pacientes responsivos são mais desbloqueados nas vias
eferentes, ou seja, descarregam com mais facilidade e tem mais contato com sensações
corporais. Avalie se a pessoa que você
está atendendo tem facilidade de sentir sensações no corpo. Se não,
considere a possibilidade de criar recursos corporais. Peça-lhe que sinta as
sensações das áreas de apoio do corpo: pés no chão, cotovelos, quadris e costas
apoiados na cadeira, pescoço relaxado, etc. Se ainda for difícil obter
percepções de sensações, peça-lhe que massageie vigorosamente o rosto, o couro
cabeludo e a nuca até que a respiração se solte e se produza respiração de
coerência. Que é quando o S.N. Autônomo expressa coerência entre o ramo
simpático e parassimpático. Ocorre uma respiração espontânea, desbloqueada.
O “lugar tranquilo” deve ser encontrado no corpo e a
respiração desbloqueada é o melhor caminho. É uma mudança de estado favorável
para recursar. Quando peço ao cliente
que experimente estas técnicas antes do reprocessamento em si e ele(a) alcança
uma sensação de leveza e abertura por ter dissolvido temporariamente seu estado
de tensão, explico-lhe que devemos encarar o reprocessamento da mesma forma. Ou
seja: apareça o que aparecer; emoções negativas, outras lembranças, pensamentos
negativos etc. o efeito resolutivo do reprocessamento deverá ser melhor ainda
do que esse. Mas, para isso sua atitude deve ser aberta, curiosa e desprovida
de julgamento. Demostro ainda que confio na sua percepção e que ele(a) é quem
vai me dizer se está realmente bem. Quando noto que se trata de uma pessoa
muito insegura e que tende a disfarçar seus sentimentos mais difíceis, digo-lhe
que seu cérebro vai tentar protege-la(o) do perigo e, por mais sincera e
verdadeira que seja sua disposição para acessar todos o material ligado ao
trauma, seu cérebro não vai deixar que ela(e) se machuque. Assim, previno a
possibilidade de que alguma parte resistente tente assumir o controle do reprocessamento.
Vê-se aqui a importância de que a
aliança terapêutica esteja bem reforçada para antes de seguirmos com o
reprocessamento. Principalmente em se tratando de momentos de crise quando a
tendência a querer negar ou distorcer a realidade é maior. Mesmo que a realidade
objetiva não seja facilmente objetivável como a que vivemos com o COVD-19. Certa
vez, num grupo de formação terapêutica, propus um exercício para demonstrar o
que é Aliança Terapêutica. Dividi o grupo em duplas e dei umas fitas de pano
para cada par. Lado a lado, eles amarraram o joelho direito no esquerdo do(a) parceiro(a).
Tiveram que caminhar dessa forma. Antes determinamos quem seria o terapeuta e
quem seria o paciente. O paciente era instruído a andar em seu próprio ritmo,
ora acelerando, ora diminuindo a velocidade. O que esta no papel de terapeuta
tinha o desafio de seguir o paciente no seu próprio ritmo. Depois cada um falou
como foi difícil!
X X X
Seguem as instruções que a treinadora Rita Silva gentilmente me
autorizou a publicar:
Pessoal
seguem algumas orientações especificamente de EMDR para esse momento de crise
mundial pois será mais seguro para todos se mantivermos os atendimentos on-line
conforme orientação do conselhos de psicologia.
Espero
que vocês fiquem bem e que continuem fazendo o trabalho necessário.
Caso
precisem de supervisão contem comigo!
Forte
abraço,
Rita
Orientações
para atendimentos on-line com EMDR:
1-
Tenha cuidado ao usar EMDR on-line em casos complexos. Orienta-se não utilizar
com tais pacientes pois são necessários manejos muito específicos. Lembre-se: muito CUIDADO. Avalie seus
pacientes criteriosamente.
2-
Instale sempre recursos em todos os seus pacientes on-line. Em Pacientes
complexos, talvez o melhor seria reprocessar quando tudo voltar ao normal no
formato presencial.
3-
Tenha o telefone do contato de emergência caso precise contactar alguém se
necessário;
4-
Seu paciente e você deverão estar em uma sala fechada e usar fones de ouvido.
Privacidade e confidencialidade, teremos de preservar.
5-
MB em adultos: podemos usar o abraço da borboleta, ou então que o paciente
encontre um ponto do lado direito na parede e um outro do lado esquerdo e o
terapeuta ajudará a afinar a velocidade e o ângulo dos olhos. Também temos a
estimulação bilateral nas pernas do paciente que o terapeuta poderá ensinar e
ditar o ritmo.
6-
Dê continuidade as sessões de reprocessamento de acordo com seu plano de
tratamento.
7-
Sempre utilize técnicas de contenção ao final de todas as sessões on-line.
Consulte seu manual de EMDR.
X x x
Logo
abaixo segue orientações de Luis Filipe Gomes, um colega de Portugal, para atendimentos de crianças
on-line que compartilho com vocês.
Indicações
para consultas ON-LINE para crianças ( NÃO SE ESQUEÇA QUE PARA FAZER EMDR EM
CRIANÇA TEM DE ESTAR HABILITADO OU TER
EXPERIÊNCIA PARA ISSO) Se não sente essa habilitação indique um colega que
possa fazê-lo em segurança.
1- 1-Preparação
a)Verifique
a ligação à internet. Pelo menos 40 mega de download e de upload. Pode fazer o teste
da sua internet aqui https://www.minhaconexao.com.br/. Ligue-se com um cabo ao
seu router pois muitas vezes a ligação WIFI não é suficiente. Assegure-se que do outro lado também existe uma velocidade apropriada.
b)Verifique se a criança tem materiais ao seu dispor ( playdoh) plasticina lápis de
colorir, bonecos de pelúcia papel etc.
c)Escolha um dos adultos da casa para fazer isto com ele. i.e
a mãe o pai ou ambos
d) Instrua o adulto e mais tarde a criança sobre as
limitações da consulta on line.
2- Lugar tranquilo ou feliz
a) A criança pode fazê-lo em papel (
desenho) ou em plasticina. Peça para partilhar consigo ( esta partilha quando
on-line ajuda a estabelecer relação) Instale esse lugar situando sensação boa
no corpo. SINAL STOP e respiração- Faça a respiração em conjunto com pai ou mãe
( ajuda na reconstruir de apego)3- Alvo. Nas criança trabalhamos aquilo que
elas trazem para a consulta e não um alvo pré-definido mesmo que tenhamos
conhecimento dele ( pesadelos ou sonhos ruins, o vírus mau, ou qualquer outra
situação que pareça ser traumática). Se a criança não abordar nenhum alvo
preocupe-se em instalar recursos positivos
e não em trabalhar sobre trauma. Se a criança disser que algo a incomoda
então pode pedir para desenhar o que a incomoda ou incomodou. Levante o ICES
adaptado à idade( crianças pequenas não terão cognição). Se disserem "TENHO
MEDO" situe essa emoção no corpo e retire o SUDS através de escala ou
através de sinal GRANDE PEQUENO MAIS OU MENOS ou RUIM
b) 4- Proceda os movimentos bilaterais ou peça para
ela fazer o abraço de borboleta ou caso escolha tapping, o pai ou
mãe podem (depois de instruídos) fazer isso com eles. Esteja atenta(o) a
sinais corporais e ab-reacções . Não faça cadeias muito longas ( o seu controlo on-line é menor!) Pode ir pedindo para a criança
desenhar o que fôr surgindo...Não volte ao
alvo se estiverem surgindo conteúdos mas certifique-se que pode continuar. PERGUNTE entre as séries. Se fôr necessário volte ao lugar feliz( tranquilo)
c) 5- Depois do SUDS zerar pode pedir para a criança desenhar de novo. Muitas vezes esta será a CP ( Certifique-se) e se assim fôr,
associe a uma sensação boa no
corpo ou a um talismã que a criança queira fazer em playdoh, por
exemplo.
Instale a Sensação boa e meça a potência da VOC. Quando estiver com VOC sete reforce essa
sensação.
d) 6- Faça o escaneamento corporal ( nas crianças tudo é registado no corpo). Pode fazê-lo brincando ( usando um boneco-
figura) para ver se todo o corpo está tranquilo. Se houver perturbação,
volte a dessensibilizar essa mesma sensação até zerar.
e) 7- Feche a sessão com um desenho com corações que representem aquilo que a criança goste mais.
f) SESSÃO INCOMPLETA. Diga à criança que o tempo
está chegando ao fim, mas que vão tornar a ver-se para diluir todas
as más sensações. Utilize um boneco seu ( um
elefante, um urso gordo, um animal grande, mas dócil) para conter
qualquer coisa negativa dizendo que ele ficará com aquilo pois é forte e gordo
e pode guardar até à próxima sessão.
19 de mar de 2020
BIBLIOGRAFIA
Boadella, D. Transferência, Interferência e Ressonância,
Cadernos de Biodinâmica 3, 1980. Summus
Reich, W. Análise do Caráter. M.Fontes, 1995.
Stolkiner, J. Abrindo-se aos Mistérios do Corpo, 2008, Ed.
Alcance, P. Alegre.
Schwartz, R. Terapia dos Sistemas Familiares Internos, Rocca,
2004.
Rogers, C. Tornar-se Pessoa, M. fontes, 1961.
Teixeira, A. R. , A clínica da vergonha, 2020
Sobre o autor: Antonio Ricardo S. Teixeira é
psicólogo clínico, CRP-01-6578, formado pela Universidade Sta. Úrsula-RJ em
Dez. 1980. Orgonoterapeuta pelo CIO-Centro de Investigação Orgonômica Wilhelm
Reich-RJ; Open-Orgonomy; Hipnoterapeuta Clássico (SOHIMERJ) e Ericksoniano.
Terapeuta e Supervisor de EMDR- Eye Movement Desensitization and Reprocessing.
Formado em Somatic Experiencing; Neuropsicólogo; Bodynamic (Pratictioner em
formação). Atualmente reside e trabalha em Brasília-DF onde dirige a Somática
Psicoterapia Corporal Integrativa www.somaticapsi.com.br . Email a.ricteixeira@somaticapsi.com.br . Onde atende individualmente e em
grupos. Desenvolve estudos e promove palestras, workshops, seminários e cursos.
Praticante de AIKIDO e Meditação Vipassana.
Membro de Associação Brasileira de EMDR;
Associação Brasileira do Trauma;
Open-Orgonomy
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