Genitalidade e poder
W. Reich aprofundou o conceito freudiano de genitalidade
agregando-lhe mais elementos significativos ao perceber que a capacidade natural
de entrega orgástica, que resulta numa “pequena morte” da consciência, é uma
das condições fundamentais que expressam saúde. (Tal condição está longe de
representar perfeição! Pois perfeição é uma meta do narcisismo secundário.) Genitalidade
é uma capacidade que, mesmo alcançada em um processo terapêutico bem conduzido,
deve ser sempre atualizada pois pode ser perdida facilmente para o aprendizado
do funcionamento anterior ou por passar por experiências traumáticas atuais.
Uma das formas de compensar esta perda ou o insucesso em alcançar a expressão
mais plena de si mesmo é a busca pelo “poder”. A busca obsessiva pelo poder é
uma das formas de maquiar a percepção do fracasso em se sentir capaz de viver
genitalmente, de forma madura. Como pouquíssimas pessoas foram criadas para
viver deste modo, o que se pode alcançar, com um processo em que se evolua
nesta direção é a capacidade de aceitar a coexistência entre os diversos
aspectos de nossa experiência neste mundo, sem excluir (conscientemente) nada.
Tristeza, nostalgia, angústia, raiva, alegria, prazer e medo diante de ameaças
reais são emoções naturais e parte integrante do nosso funcionamento. Quem
busca poder pelo poder, evita sentir o que pode revelar sua natureza mais
genuína. Portanto, quem decide resgatar sua genitalidade não irá para o “céu de
Reich”, mas sim, continuará existindo de modo realista e capaz de se reinventar.
Se tiver alguma capacidade que a leve a buscar um lugar de poder onde possa
manifesta-la esta terá uma finalidade bem específica, mas nenhum caráter
narcisista compensatório. (A. Ricardo Teixeira)
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