sexta-feira, 8 de março de 2019

Heal O poder da mente: uma breve análise

Assisti "Heal o poder da mente" e gostaria de fazer algumas observações. Inicialmente, o filme expõe as fragilidades da medicina (oficial), que se propõe baseada em evidências, mas que muitas vezes, fechou os olhos para evidências que apontam para outras direções tais como o efeito placebo, as curas espirituais e a chamada remissão espontânea da doença. Podemos facilmente evocar teorias conspiratórias por parte dos interesses econômicos da indústria farmacêutica e dos médicos interessados em vender seus tratamentos como produtos validados cientificamente. Tudo isso cabe na discussão porém, não podemos esgotar o assunto aí pois há muitos outros detalhes em jogo. 
Embora não tenha resposta para todas as perguntas fundamentais pertinentes sobre as  causas das doenças  e melhores  tratamentos,  o filme põe em evidência o estresse crônico e os traumas inconscientes, a genética e o estilo de vida, como já sabemos. Apresenta como opção as  mudanças no estilo de vida enfatizando alimentação saudável, controle do estresse, atividade física, meditação, yoga, acupuntura, terapias alternativas, etc. (Para muitas pessoas, isso equivale a uma conversão da ignorância sobre si mesmo  para a sabedoria).  
O que  me incomodou no filme é que essas práticas foram apresentadas como se bastasse que elas fossem praticadas que a cura viria como efeito. Acontece que há vários casos de meditadores que morreram de  câncer, professores de yoga que tiveram surtos psicóticos, terapeutas que se suicidaram por depressão, atletas que adoeceram, etc. Certamente, isso não torna essas práticas inúteis nem ineficazes. Pelo contrário, o que precisamos é considerar desde quê posição psíquica elas são tomadas. 
O poder da mente  onipotente e  dissociada pode causar uma grande confusão neste cenário clínico colocando as práticas alternativas no mesmo plano das outras gerando uma disputa do mercado das doenças. Retiros espirituais, alimentação saudável e meditação, a despeito dos benefícios, podem ser também uma grande forma de fugir de si mesmo. Ou nutrir rigidez caracterologica, dissociação  e obsessões. Terapias podem aperfeiçoar o caráter neurótico em vez de dar-lhe  flexibilidade e aceitação da falibilidade humana. O certo é que estamos em rota de colisão com a morte e a encontraremos sem termos resolvido muita coisa sobre a existência uma vez que ignorância e a onipotência  impedem de problematizar. 
Um processo de cura de doenças crônicas causadas por trauma e por estresse pode ocorrer quando emergem à consciência  todos os elementos envolvidos na experiência traumática. São eles: significados autorreferentes, (geralmente julgamentos autodepreciativos); sentimentos ligados ao isolamento emocional, abandono, rejeição, culpa, vergonha, ciúmes, inveja, que são os mais difíceis de reconhecer, inferioridade e superioridade compensatória, angústia,  etc. ; emoções básicas (medo, raiva, tristeza, nojo, alegria), geralmente bloqueadas na memória traumática; sensações corporais correspondentes ao evento traumático, associadas às intensas ativações neurofisiologicas causadas pela percepção de ameaça. 
Ativar os mecanismos naturais de cura implica em superar vários mecanismos de defesa do ego para poder entrar em contato com a devastação causada pelo trauma através da confiança e do  suporte terapêutico pois, à sós é muito difícil. O paciente precisa  combinar a coragem de enfrentamento ao apoio recebido, a humildade à compaixão por si mesmo e a técnica apropriada a uma forte intenção de se curar. Ninguém consegue alcançar uma resposta terapêutica tão profunda se ainda estiver dominado pelo pensamento mágico ou por defesas dissociativas. 

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