quarta-feira, 8 de março de 2017

Wilhelm Reich escreveu um texto que se intitula "Dois tipos narcisistas" onde descreve as duas atribuições opostas do narcisismo secundário que são a superioridade e a inferioridade. São formas de relação consigo mesmo que estão atravessadas pela relação com outro, diferentemente da percepção natural de si mesmo através de sensações e sentimentos, o que chamamos de narcisismo primário. O melhor exemplo do tipo de confusão que o narcisismo secundário pode causar numa pessoa é dado pelo humor, numa antiga charge de Frank&Ernest, publicada no Jornal do Brasil nos anos 1990. Aí vai:
O psiquiatra diz para o paciente: "Você precisa gostar mais de si mesmo." O paciente responde: "Me recuso a baixar meus padrões a este nível." Tal paciente pode muito bem ser diagnosticado como uma vítima do narcisismo secundário.
(Da série: Diálogos internos)
Carta a Narciso I - Escrevo-lhe  para protestar contra o seu domínio. Por não suportar suas exigências descabidas, que condicionam meus sentimentos às suas necessidades de grandeza. Quero me libertar de sua Escola (Narcisismo) que só cultua a superioridade do eu, desprezando toda e qualquer manifestação espontânea e natural do ser humano que é o que eu verdadeiramente sou. Que me agride, através do corpo, impondo terríveis castigos pela fome, trabalhos forçados, necessidade de agradar, pelo sacrifício de prazeres sensuais, fazendo com que eu padeça, mingue,  até  desfalecer. Que, quando em corpo de mulher, impõe os sacrifícios mais torturantes, só para parecer atraente e valiosa, fazendo-a competitiva e simultaneamente derrotada quando se vê em diminuição frente a outras mulheres e homens.  Quando em corpo de homem, rejeita sentimentos e puros desejos fazendo-se lógico, racional e portanto superior. Não aguento mais ter que  distrair você para poder me encantar com as realizações espontâneas do ser-humano-coisa que sou. Que me permitiria amar da cabeça aos pés, sem idealizações que fatalmente fracassam quando você reassume seu poder de ser-crítico-punitivo. Não suporto mais que você me odeie pelo que eu não sou ou não fui.  Volto a sofrer com seus ataques destrutivos quando a imagem que eu reflito não emite o brilho de suas expectativas do que eu deveria parecer para o outro. Chega! Não sou uma fábrica de imagens condicionadas ao desejo dos  outros que você se apropriou, que sequer sei o que pensam. Enquanto ser, sou sim, uma fábrica de sonhos querendo se realizar e sentimentos a expressar. Mas, diante do seu faz-de-conta insuportável meus sonhos perdem a originalidade e não sei mais como me  expressar.  Assinado: 'o-ser' destroçado pelas exigências do deveria ser".

Um comentário:

  1. Abaixo a auto-exigência narcísica! É urgente uma educação para a manutenção da espontaneidade e a saúde do "self" .Como nos livrar e nos curar da "peste"?

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